sábado, 25 de agosto de 2007

Pretty Woman trash


Sai Julia Roberts, entra Zé do Caixão. O dramalhão em Bangu desconhecia as vantagens de uma iluminação imponente; até vaga-lumes teriam performance mais digna em meio ao intenso combate no gramado. Coitadinho do presidente, ele não merecia sofrer com um filme trash sem holofotes como este em Pretty Woman. João Bosco, adepto dos efeitos hollywoodianos, desejava o fim desse pesadelo; ele só queria se deleitar com o corsário Duro de Matar 4 adquirido na noite anterior. No entanto, a partida parecia contrariar a ditadura do tempo, avançando melancolicamente diante da escuridão ameaçadora.

A excessiva e burocrática cautela villa-novense teve o dom de ressuscitar a moribunda equipe do Madureira, garantindo a pungente carga de dramaticidade tipo C que tomou conta de todo o segundo ato. Ahhh...um cenário perfeito para uma transmissão radiofônica livre da companhia maldita da televisão e suas imagens irritantemente categóricas. Aguiar pôde gritar e vociferar com tranqüilidade; também pude dar um tom funesto e gutural a cada avanço amarelo, construindo um cenário de caos que certamente tocou o ouvinte distante e carente.

Ah...como somos maus...Mas podem acreditar: os minutos finais foram realmente angustiantes; nem mesmo a vexatória penumbra de Pretty Woman conseguiu ocultar o sofrimento de toda gente humilde do Leão que só desejava avançar para a próxima fase e seguir sonhando com o eldorado da Série B. No entanto, o time amarelo hepatite do subúrbio buscava incessantemente o gol de empate; sua digna luta pela honra se confundia com os boatos de doping financeiro juventino, materializados em uma mala preta recheada de pizzas sabor calabresa.

A Rádio Carioca 710 se entusiasmava a cada jogada de ataque; produzindo um escarcéu na varanda de imprensa e impulsionando as parcas esposas e sogras nas arquibancadas frenéticas; já a Aurilândia e a concorrente depositavam esperanças no feitiço do tempo, apenas ele poderia salvar o amedrontado e acuado leão. Em meio à avalanche de sensações e desejos, o árbitro daria a cartada final, assumindo seu tradicional papel de vilão e protagonizando lamentáveis ofensas, expulsões, discussões e ameaças nos instantes derradeiros. Por favor, só não ofendam a bandeirinha Dulcinete, que ela é moça de família...O discurso de superação contra tudo e todos já estava preparado, bastava resistir e vencer. Foi divertido.

O Madureira foi agressivo desde o início da segunda etapa, buscando envolver um adversário que simplesmente renunciou ao ataque. O técnico Gabriel Vieira percebeu a nova face da partida e aos 11 minutos modificou a equipe, promovendo a entrada de um bancário atacante na vaga de um lateral-direito defensor (saiu Celso, entrou Dinei). Logo na seqüência, aos 14 minutos, o já evidente domínio territorial amarelo encontrou o travessão do milagreiro Glaysson, em potente disparo de Michel já na acolhedora área vip villa-novense. O retumbante uhhhh das esposas suburbanas nas arquibancadas impulsionou o Madureira; a equipe manteve o sufoco, alterou um zagueiro por contusão e levou o prudente Flávio Lopes a retirar um atacante e colocar um meio-campista defensivo (saiu Rômulo, entrou Jackson). O Villa permanecia com a liderança do marcador: 2 a 1.

Aos 26 minutos, Luciano invadiu a área e finalizou para o gol. O disparo não foi forte, mas descreveu uma trajetória traiçoeira. Glaysson, provavelmente disposto a agradar o presidente, saltou como um Bruce Willis negro e alado. A defesa do milagreiro encheu de impactante frustração a gente suburbana, o Villa pôde respirar melhor e até desafiar os mistérios das trevas do campo inimigo. No entanto, aos 34 minutos, Fabinho boca suja entraria bisonhamente em ação.

O obscuro atacante do Villa Nova invadiu a área adversária pela direita e caiu na terra prometida na esperança de um pênalti salvador. O árbitro capixaba não se sensibilizou com a tosca simulação e ordenou a imediata seqüência do confronto. Fabinho boca suja, tomado por fulminante indignação, mirou o insensível árbitro e manifestou toda a educação que seus pais lhe ofereceram, desejando em alto e bom som que o mandatário da partida tomasse no c. O árbitro, aparentemente não adepto da prática sodomita, negou o convite e respondeu com um cartão vermelho. O caos tomaria conta da trash Pretty Woman.

Fabinho boca suja ainda caminhava sorrateiramente rumo ao vestiário quando, aos 37 minutos, o árbitro capixaba, já uma das estrelas do evento, disse a Carciano que ele estava “falando demais”. O zagueiro capitão villa-novense, um gentleman, uma espécie de novo Príncipe Etíope do futebol brasileiro, foi expulso de campo. O comandante Flávio Jennifer Lopes, tomado por incontrolável ira, invadiu o gramado, gritou, esperneou, rebolou e também foi eliminado pelo júri. O árbitro, cercado por um voraz mar alvirrubro, friamente manteve-se irredutível; Bangu I já estava em alerta.

Fabinho boca suja, o gentleman Carciano e Flávio Jennifer Lopes, acompanharam o restante da partida na entrada dos vestiários. O quarto árbitro ainda acionou a força policial, na tentativa de retirá-los do local. No entanto, nunca existiu lei em Bangu; Lopes seguiu gritando histrionicamente, implorando para que o time tomasse cuidado com as costas (bom...o árbitro que deveria fazer isso, depois do que o Fabinho falou...enfim). Willian César, que havia entrado pouco antes da primeira expulsão, se transformou em um solitário atacante, rompendo insanamente a enigmática penumbra; Márcio Diogo saiu, o zagueiro Helberth entrou para dar mais força ao ferrolho villa-novense. O técnico carioca ainda colocou mais um atacante em campo (saiu Amarildo, entrou Raone), mas pouco depois Michel foi expulso ao cometer dura falta. A eliminação do meio-campista foi um golpe fatal para o time que sonhava em se despedir da série C de forma menos vergonhosa. Mas restavam cinco minutos de acréscimos...O Madureira desesperado se lançou ao ataque, entretanto se limitou a infrutíferas conexões aéreas. A mediocridade da casa garantiu o alívio derradeiro em Pretty Woman. Final de partida. Madureira 1x2 Villa Nova.

No outro confronto da rodada, o sorumbático Democrata se classificou ao empatar sem gols com o Juventus. No entanto, o Villa Nova conquistou a primeira colocação, com nove pontos, duas vitórias, três empates, uma derrota, 12 gols marcados, 6 gols sofridos. O Democrata também alcançou nove pontos, porém foi superado no saldo de gols; a pantera marcou sete vezes, mas sofreu dez golpes fatais. O Juventus agora apenas disputa alegremente a Copa da Federação Paulista, o Madureira...bom... o Madureira volta ano que vem. Fique com a ficha técnica.

05/08/2007 – domingo –16h

Madureira 1 x 2 Villa Nova Gols – Vivinho (6’ do 1º) (pênalti) (M) – Paulo César(21’ do 1º), Carciano (28’ do 1º) (V)

Local – Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho– Moça Bonita (Rio de Janeiro-RJ)

Árbitro – Eucimar Luís Ramos (ES) Assistente 1 – Ricardo Maurício Ferreira de Almeida(RJ) Assistente 2 – Dulcinete Ferreira Machado (RJ) 4º Árbitro – Adriano Ferreira Machado (RJ) Cartão Amarelo – Sílvio (M) – André, Rodrigão,Carciano, Raniery, Márcio Diogo, Fabinho (V) Cartão Vermelho – Michel (43’ do 2º) (M) – Fabinho(34’ do 2º), Carciano (37’ do 2º) (V)

Madureira – Bruno Garcia; Celso (Dinei) (11’ do 2º),Marcílio, Sílvio (Thiago Borges) (18’ do 2º) e Amarildo (Raone) (40’ do 2º); Tiago Costa, Daniel,Guido e Michel; Luciano e Vivinho Técnico – Gabriel Vieira

Villa Nova – Glaysson; Édson, Rodrigão, Carciano e Raniery; André, Emerson (William César) (32’ do 2º),Paulo César e Márcio Diogo (Helberth) (40’ do 2º);Fabinho e Rômulo (Jackson) (20’ do 2º) Técnico – Flávio Lopes

Depois do jogo: o sorriso de galã guatemalteco de Márcio Diogo simbolizou bem o sentimento de alívio e felicidade que invadiu cada coração villa-novense. Os jogadores saíam felizes e disparavam os discursos de superação já preparados antecipadamente com amor e carinho. Ah...como tempero especial...tradicionais elogios ao árbitro da partida. A festa dos heróis tipo C continuou nos vestiários; cantaram parabéns para alguém que desconheço e deram gritos de profundo êxtase que provavelmente irritaram os dirigentes anfitriões. A luz do vestiário foi solenemente cortada; o mesmo aconteceu com a varanda de imprensa. Aguiar ainda conquistou a façanha de ler alguns reclames antes de finalmente encerrar a jornada na mais completa escuridão. Antes disso, o narrador de ouro tinha se divertido bastante em meio a gargalhadas espalhafatosas. Tudo porque Fabinho boca suja, perguntado qual havia sido o motivo de sua expulsão, respondeu com toda a sinceridade: "Ah...eu mandei ele tomar no c..." O microfone da Aurilândia captou cada letra, cada palavra; nesses momentos não existe problema técnico, tudo funciona perfeitamente...e a Aurilândia se transforma na BBC de Londres. Culpa do Armando. Ou seria de Jota Moreira?

sábado, 18 de agosto de 2007

A batalha de Pretty Woman


Quando a noite chegar, a derradeira rodada já terá partido (de ônibus evidentemente), levando consigo as equipes que avançarão com seus devaneios de série B e liquidando aquelas que encontrarão no restante do calendário a maior razão para seu sofrer. Nada mais cruel e impiedoso. Aliás, já adianto que o Villa nunca viu na mirabolante Taça Minas “tapa buraco” Gerais, da qual inclusive é o atual campeão, uma boa opção para seguir sua vidinha ao longo do segundo semestre. O Villa é aventureiro, quer desafiar seus obstáculos, contrariar seus limites, acumular dívidas, desbravar o Brasil; por isso, embalado pelos fortes ventos de Bangu, imediatamente se lançou ao ataque com a intensidade de um feroz leão, em busca de uma das vagas do grupo 14 da Classe C tupiniquim. Com autoridade e uma certa ansiedade, ocupou o território inimigo, desejando castigar o mais rápido possível as redes de Bruno Garcia. O domínio parecia inabalável, as testemunhas anfitriãs no estádio Julia Roberts em Pretty Woman já manifestavam o precoce pessimismo dos medíocres profissionais. No entanto, um erro fatal evidenciou o eterno caráter traiçoeiro do futebol e rapidamente deu novo semblante à partida. O então inofensivo Madureira deu o bote em seu campo de retaguarda, capturou o passe adversário e avançou em contragolpe pela direita. A defesa completamente escancarada acompanhou Vivinho que apreciou a liberdade oferecida e invadiu a área vip villa-novense; na sequência o atacante foi atingido pelo volante André e caiu na terra prometida. Esposas, namoradas e sogras vibraram nas arquibancadas; o árbitro capixaba Elcimar Ramos marcou a penalidade máxima com um contido prazer no olhar. O zero a zero diria adeus.

Minuto 6: A descrição da maldição: Vivinho ignora o milagreiro Glaysson e dispara forte e rasante no rodapé direito. Gol do Madureira, o primeiro tento (haha) da já eliminada equipe suburbana na Série C. Nos minutos seguintes, o Villa entraria em pane e por pouco não sofreria novamente a dor do gol. A derrota significaria a eliminação, o empate transformaria todo villa-novense em fervoroso torcedor do Democrata na outra partida da rodada diante do Juventus; apenas a vitória daria a certeza da classificação ao final da partida. O cenário era recheado de desafios, o prazo era implacável. A Aurilândia transmitiu todo esse dramalhão mexicano-villa-novense que você acompanha a seguir.

Sim, a Aurilândia estava no ar levando angústia e esperança ao coração villa-novense. Tudo graças ao novo personagem deste blógui, o Armando, experiente técnico com passagens pela Itatiaia e Inconfidência, que nos acompanhou nessa empreitada decisiva, garantindo a transmissão integral da partida, contorcendo fios e se mantendo invicto no mundo das jornadas esportivas. Armando, uma espécie de Forrest Gump radiofônico, é uma figura sensacional, apesar de telespectador contumaz do Globo Rural.

A matéria sobre os caramujos gigantes africanos que estão atacando o Brasil não só me acordara naquela manhã como ainda me intrigava em meio ao forte combate no gramado de Pretty Woman. O seu Oscar Pereira, de Dourados (MS), mandou fotos do caramujo que está atacando suas árvores e sua horta. A atração global, sempre generosa, informou que se trata do temido caramujo gigante africano já citado por aqui, trazido para o Brasil na década de 80. Atenção seu Oscar, caso não tenha visto a edição desse domingo, aqui estão as recomendações para vencer essa praga: Para fazer o controle é preciso atraí-los durante a noite usando plantas das quais eles gostam, como hortaliças. De manhã, é só pegá-los e queimá-los. Mas cuidado, use luvas descartáveis ou sacos plásticos para proteger as mãos. O caracol africano se contamina com vermes prejudiciais ao ser humano. Se a infestação for grande, é melhor recorrer à autoridade sanitária da sua região.

O perigo de fato é iminente: esse caramujo é ousado e ataca com um estilo que mescla os melhores momentos de Didier Drogba e Roger Milla. Sempre envolvente e insinuante, ele gosta de viver em restos de entulhos, tijolos e locais úmidos com lixos orgânicos. Como o Seu Oscar já deve saber (bom...espero que saiba, senão que descanse em paz), o perigo são os parasitas que o caramujo africano hospeda; a contaminação pode se dar tanto com o contato da pele quanto pela ingestão das larvas; os sintomas das doenças causadas podem ser dores de cabeça, hemorragias, perfurações intestinais, danos ao sistema nervoso central, cegueira, enfim...acredita que a pessoa pode até morrer? É verdade...e pensar que esse bicho veio para cá no fim dos anos 80, numa tentativa frustrada de substituir o escargot no cardápio da elite afetada...As dondocas não apreciaram o sabor e como vingança o sindicato dos caramujos africanos decidiu instaurar a praga e...o Villa lentamente retomou a tranqüilidade e a confiança perdidas com o gol sofrido. O acuado Madureira se submeteu à veloz troca de passes mineira, cada vez mais agressiva e perigosa.

Minuto 22: Márcio Diogo escapa da marcação, abre espaço e dispara forte na direita da entrada de área. O goleiro Bruno Garcia espalma; o rebote vai para o domínio de Paulo César que, antecipando-se à zaga suburbana, dispara cruzado no rodapé esquerdo de Bruno; ela ainda toca na trave antes de detonar as redes. Êxtase em Pretty Woman. Grite Aguiar, grite na varanda de imprensa. Madureira 1x1 Villa.

Nesse momento, o domínio villa-novense era amplo, geral e irrestrito. O gol não tem hora, pode ser agora, diria o profeta cauteloso. Minuto 28: Raniery avança pela esquerda e levanta no balacobaco; um bate-rebate desenfreado termina com o último toque do humilde zagueiro Carciano que, no intervalo, confessaria que nem tinha certeza que havia sido o autor do gol da reviravolta. Madureira 1x2 Villa.

O jogo tornou-se extremamente aberto e inconsequente. O Villa contava com os avanços do inspirado Márcio Diogo que com belos dribles envolvia a pobre marcação adversária, talvez já preocupada com seu futuro após o final da partida. Apesar do fantasma do desemprego, embora boa parte do elenco já estivesse garantida na equipe do Bangu que disputa a segunda divisão carioca a partir deste mês de agosto, o Madureira buscava se reerguer na partida. O time carioca apostava na força física e nas faltas de longa distância: em uma delas, o meia Michel disparou forte, ela passou assombrando Glaysson, à esquerda de seu gol.

Os céus de Bangu, repletos de pipas domadas por moleques atrevidos, (algumas delas inclusive visitaram o gramado) testemunharam o final do intenso primeiro ato. Madureira 1X2 Villa. Com o resultado, a equipe mineira não só se classificava, como também garantia a antes improvável primeira posição do grupo 14, já que Democrata e Juventus seguiam empatados em zero a zero. Algo excelente para um time que nas primeiras quatro rodadas, colecionava três empates e uma derrota. Jota Moreira, por favor, comande o intervalo com seu estilo eloqüente e sempre equilibrado e racional. Ah....disparates, torpedos, invasões, cartões, palavrões, policiais, sorrisos e lágrimas...tudo isso na segunda etapa. Só faltaram os caramujos...Não perca.
(você está acompanhando o relato de Madureira x Villa, confronto disputado no domingo 5 de agosto, pela última rodada da primeira fase da Série C)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Bangu 2014...porque nada é mais seguro.


O estádio Julia Roberts em Pretty Woman é um magnífico exemplo de como um bom anfitrião deve receber visitantes e forasteiros da imprensa. Os conceitos mais modernos de organização reinam imponentes nesse patrimônio do Bangu Atlético Clube; talvez uma herança dos queridos bicheiros, baluartes de um país sério e eficiente que eternamente desejamos. Por isso, certamente inspirados nesses avançados paradigmas, em nenhum momento, fomos obrigados a apresentar nossas credenciais da AMCE (Associação Mineira dos Cronistas Esportivos) e ABRACE (Associação Brasileira dos Cronistas Esportivos); bastou apenas aguardar que o árbitro da partida, trajando terno escuro e uma camisa rosa, estacionasse seu carro já no interior do estádio, em um setor próximo ao portão de entrada, para que fizéssemos o mesmo e partíssemos livres da burocracia e suas lastimáveis aporrinhações de praxe. Uma verdadeira aula de etiqueta que nos emocionou; só faltaram tapetes vermelhos e canapés ao longo do doce caminho rumo às cabines, mas espero que isso seja corrigido rapidamente.

Bom...somos bonitos, simpáticos e galantes; além de arrancar suspiros, transmitimos confiança e credibilidade por onde andamos e, acima de tudo, somos conhecidas estrelas da Aurilândia, uma rádio famosa em todo território nacional; por isso, realmente não seria justo passar pelo constrangimento de apresentar insignificantes documentos como figuras suspeitas e altamente perigosas. Aliás, se existe um logradouro onde reina a justiça, esse logradouro se chama Bangu. Esse é o país livre que sonhei para mim. Que seu exemplo sirva de lição para todos que gerenciam estádios no Brasil. Bangu 2014! A campanha já está lançada, Pretty Woman vai receber o mundo de braços abertos e... nem vai perceber isso. Castor de Andrade que nos proteja. Amém.


PS: tudo aconteceu no domingo 5 de agosto, antes do duelo entre Madureira e Villa Nova; dramático confronto disputado em Moça Boni...ops...Pretty Woman e que será destacado a seguir.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Alguém tem que matar



Ahhh...o simpático, o aprazível, o aconchegante bairro do Flamengo! Quando pela primeira vez o contemplei em toda sua hospitalidade acolhedora, senti até um ziriguidum bem no âmago do meu ser, lá mesmo, onde o coração bate mais forte e a coitada da razão nem sonha em reinar. Senhoras e senhores, devo lhes dizer que nem me recordava que estávamos na temível cidade do Rio de Janeiro, o balneário palco de chacinas, tiroteios, bombardeios, desacatos, subornos, assédios, ameaças, tsunamis e abalos sísmicos rotineiramente estampados nos diários sérios de nosso país varonil. O Flamengo é lindo em sua simplicidade, com sua gente falante e frenética ziguezagueando e sambalançando nas estreitas ruas repletas de vida, desejos, alegria e...atenciosos camelôs vendendo de raridades do tempo das vitrolas a peixes e crustáceos em sacos plásticos. O realismo mágico latino-americano em sua versão mais irreverente e fervilhante. Viva o Flamengo! (o bairro, é claro)

Advertência: talvez tudo citado acima, não tenha passado de uma grande ilusão; é verdade, como bom mineiro tenho que avaliar todas as possibilidades; talvez tudo tenha sido uma estrondosa conspiração governamental, uma gigantesca e eficiente maquiagem arquitetada em todo bairro pelos poderes estatais quando informados da visita da poderosa Aurilândia; ou quem sabe mais um inútil delírio deste blógui maldito, sempre mendigando assunto para se manter vivo. Portanto, aprecie com moderação.

Mas nãããoooo, apesar das fortes evidências, prefiro acreditar na beleza sincera que vi, inspirada pelo mar imponente, pelo morro da Urca, pelos bondinhos rasgando os céus da Guanabara em meio aos aviões que partiam seguros do Santos Dumont. Não há caos aéreo no Flamengo! Tudo vai bem, o amor e a solidariedade reinam nos corações dos controladores aéreos; até chego a pensar que o faraônico PAN trouxe a chama que faltava para a concretização desse balacobaco com jeitão de paraíso tropical. Lennon, Luther King, Ghandi, Inri nós conseguimos! Vamos transformar o Brasil em um imenso bairro do Flamengo!...Atenção Força Nacional, Exército e Policias Militar e Civil, podem se retirar, aqui todos só desejam a felicidade e o bem-estar social...Nada de guerra, nada de violência! Balas, só as doces... Porque a partir do Flamengo, Barra, Leblon e Vigário Geral vão se unir por toda a eternidade. Por favor, cante ministro, cante um trechinho...(a música é do João Donato)


A paz invadiu o meu coração

De repente me encheu de paz

Como se o vento de um tufão

Arrancasse meus pés do chão

Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução

Lálálálálálálálálálálálálálálálálá

Ahhh...obrigado ministro, pode voltar ao seu gabinete refrigerado...Que maravilha, “all you need is love” baby, por isso, é no Flamengo que desejo sonhar, que desejo viv...mas olha só, não acredito, olha lá que vem, com seu doce balanço de bom vivant provinciano retornando de um passeio agradável pelo querido Flamengo; é ele, o presidente do Villa, o João Bosco, todo de branco como um pai de santo bem sucedido, certamente já envolvido pelos sublimes ideais de paz que emanam por todos lados dessa atmosfera celestial, trazendo sorridente um dvd corsário a tiracolo:

_Ei João...qual é a película?

_Duro de matar 4! Acabou de sair!

-Ah, legal...é isso aí...Maldito Bruce.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O baile do Bonfim


Aguiar sempre com seu velho estilo nitroglicerinico. “Não foi pênalti!”, bradou histrionicamente ao microfone da bendita Aurilândia. No entanto, em meio ao clima de indignação heavy-metal, preferi respeitar minha miopia e disparar o clichê do “lance muito difícil que só após muitas repetições talvez fosse desvendado por completo”. Sérgio Noronha que me aguarde...Bom...o fato é que a penalidade estava marcada e a gorducha já se oferecia em busca de carinho; um toque sutil que a levasse delicadamente ao êxtase junto ao véu da noiva. Um tango, por favor. Everton se concentra para o ato; Glaysson, como um lanterninha de cinema, se prepara para frustrar o prazer alheio. O duelo particular enche de suspense o Alçapão do Bonfim. O drama apenas é rompido quando o árbitro autoriza e Everton avança como se partisse rumo a um matadouro de panteras. O disparo débil descreve uma trajetória lenta e suave. A irada gorducha ainda tem tempo de gritar “Frooouxooo!!!” antes de encontrar os braços de Glaysson, que a agarrou apaixonadamente no canto direito da meta villa-novense. O milagreiro não precisou evocar John Coffey nem mesmo o transloucado Doni. Foi uma cobrança miserável de Everton; até Alencar defenderia sem maiores esforços. O caminho estava definitivamente aberto para o massacre. Segue o baile.

O Villa retomou o ímpeto inicial e acelerou com toda intensidade em busca do gol. A blitz leonina envolveu com extrema facilidade a rendida equipe adversária; Minuto 29: o veloz Márcio Diogo, ostentando um penteado arrojado que o tornou ainda mais debilitado esteticamente, avança pelo bico direito da grande área, escapa do combate e dispara forte e cruzado no rodapé direito de Alencar. Villa 3x0 Democrata.

O belo terceiro gol do Leão embalou os minutos finais da primeira etapa. Na saída para os vestiários, os jogadores destacaram a humildade e determinação apresentadas na luta pelo resultado positivo, agradeceram a Deus, à torcida maravilhosa e reafirmaram que o jogo não estava ganho; o Democrata é uma grande e perigosa equipe...blá, blá, blá, blá, blá...Pausa para descanso.

Segundo ato O frenético twist and shout villa-novense, que apenas fora interrompido por um dramático tango no momento do pênalti inofensivo, deu lugar a um modorrento bolero nos minutos iniciais da segunda etapa. O cauteloso Villa burocraticamente aceitou o jogo truncado de um medroso Democrata, um verdadeiro gatinho Pacato. Os toques laterais, as faltas táticas, o ritmo de baile da terceira idade, só foram interrompidos por um lançamento fatal. Minuto 24. O cruzamento no balacobaco encontra o centroavante Rômulo que com um desvio preciso, supera o pobre Alencar e decreta mais um gol do Leão. Villa 4x0 Democrata...Twist and shout baby...

Na sequência, o time da casa decidiu trocar passes ao som de orgásticos olés, ditando a partida ao seu bel-prazer. Minuto 31. O maldoso anfitrião permanece no campo de ataque e alcança o quinto gol após um bate rebate cheio de ziriguidum na área inimiga. Carciano dispara e ela ainda encontra as pernas de Risonaldo Surubim, antes de castigar mais uma vez as redes de Alencar. Risonaldo Surubim... Villa 5x0 Democrata.

Diante do delírio inimigo, o jovem Rafael decidiu apostar em uma apresentação solo; Minuto 38: um despretensioso lançamento parte da direita e encontra o atacante que, com eficiência, marca um dos mais discretos gols da história do alçapão. Nada que modificasse o fervilhante e inspirado ritmo villa-novense, algo impensável diante das performances anteriores, repletas de vacilos e interrogações. Minuto 43: Edson avança pela direita e descola um lançamento na direção de Paulo César que, completamente livre de marcação, cabeceia marcando o estrondoso sexto gol. Villa 6x 1 Democrata.

A versão valadarense da Vênus platinada com limitações orçamentárias ainda choramingava a humilhação ultrajante quando em mais um ataque furioso, já nas cinzas das horas, Willian César sacramentou a goleada com um peixinho estiloso. Melhor encerrar o prélio: Villa 7x1 Democrata. Como última canção, o discurso presidencial, recheado de satisfação e promessas de levar a torcida ao Rio de Janeiro, para apoiar a equipe na partida decisiva diante do já eliminado Madureira. No outro confronto da rodada, o tricolor suburbano perdeu por um a zero para o Juventus na Rua Javari.

O equilibrio do grupo 14 confirmava as profecias da equipe de ouro da Aurilândia...Isso mesmo...Nós somos a equipe de ouro, você tem alguma dúvida disso? Ah....após a partida, ainda fomos aos estúdios e conhecemos pessoalmente Geraldo Eustáquio ou simplesmente ele: o mais fleumático dos plantões esportivos: Mister Jay Moreira. O grande âncora, sempre equilibrado e racional, nos mostrou sua situação de penúria em meio à ultrapassada estrutura de trabalho da Aurilândia, quase nos arrancando lágrimas sinceras. Fique com a ficha técnica.

Ficha Técnica

Villa Nova 7x1 Democrata-GV -domingo, 29 de julho- quinta rodada

Local: Estádio Municipal Castor Cifuentes, em Nova Lima-MG

Renda: R$3.224,00 Público: 595 pagantes

Árbitro: André Luís Martins Dias Lopes (MG)

Cartões Amarelos: Rodrigão, Éverton Araújo (Villa Nova); Riso Surubim (Democrata FC-MG)

Gols:Fabinho, aos 6'/1T; Rômulo, aos 13'/1T; Márcio Diogo, aos 39'/1T; Rômulo, aos 24'/2T; Riso Surubim, aos 31’/2T (contra); Paulo César, aos 43'/2T; William César, aos 46'/2T (Villa Nova-MG); Rafael, aos 38'/2T (Democrata FC-MG)

Villa Nova- Glaysson; Édson, Rodrigão, Carciano e Raniery; Everton Araújo (André), Paulo César, Emerson e Márcio Diogo (William César); Fabinho e Rômulo (Jil) Técnico: Flávio Lopes

Democrata: Alencar; Ernane, Riso Surubim, Miguel e Jean; Henrique, Hudson (Edílson), Anderson Tôto e Everton (Biro Gomes); Thiago Silva (Miller) e Rafael Técnico: José Maria Pena.

Próximo destino: Rio de Janeiro, Moça Bonita, sexta rodada- 5 de agosto- MADUREIRA X VILLA NOVA

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A metamorfose



Certa tarde, ao acordar após rodadas patéticas, o Villa Nova viu-se no gramado, metamorfoseado num monstruoso e voraz Leão. Do outro lado, uma anêmica pantera, que se imaginava a fera soberana no caótico reino do grupo 14 da Classe C tupiniquim, sonhava ingenuamente com um empate que já lhe garantiria na fase seguinte da competição. Pobre coitada; o time do Democrata ignorava o iminente crime do qual seria uma melancólica vítima. Dentro de instantes, as testemunhas presentes ao Alçapão do Bonfim, assistiriam a um dos mais inesperados e devastadores massacres da história de Nova Lima. “Nunca antes na história deste estádio, aconteceu algo semelhante”, diria o presidente Lula. Em meio à avalanche de gols e declarações de amor eterno, os antigos vilões villa-novenses sairiam consagrados de campo. Tudo lhes seria permitido naquela noite de glórias e prazeres infinitos; abnegados pais de família prenderiam suas filhas em casa, tanto as comportadas quanto as assanhadas. Os jogadores e torcedores do Democrata desejariam partir imediatamente para Miami, aproveitando a tragédia para antecipar a inevitável debandada da escaldante Governador Valadares. Flávio Lopes, o novo comandante do Leão, discursaria com ares de gênio intocável, arquitetando teorias mirabolantes que justificariam a fulminante redenção. O presidente João Bosco lançaria sorrisos até para os maridos e namorados das moçoilas das arquibancadas. Uma onda de inabalável otimismo abraçaria todo o Bonfim: os ruidosos pastores da filial da Assembléia de Deus ao lado do estádio, gritariam em uníssono: Aleluia! Vamos contribuir irmãos! Aleluia! Aleluia! Ahhhh...uma felicidade incontida...Sorrisos, abraços, agradecimentos por todos os lados...e a tristeza....a tristeza não poderia nem pensar em chegar! Não é mesmo Pirulitovsky?


A edição de 19 de julho da Folha de São Paulo, adquirida em uma simpática padaria no bairro paulistano da Lapa, que se orgulha em oferecer aos clientes a estrondosa iguaria “caracu com ovo” em sua carta de bebidas, estampou no caderno Ilustrada, mais exatamente na sempre badalada seção de astrologia:

SAGITÁRIO
Você lembra do que o levou a aceitar certos encargos, a assumir alguma tarefa profissional específica? Pois é dia de ajustar isso às demandas internas. Sem ter medo de mostrar as fraquezas e fragilidades. Por meio delas é que você irá desmascarar o que não anda bem. Mudar é preciso e agora.

Aguiar é do signo de Sagitário, diria Zora Yonara. O jovem jornalista andava desgostoso com os insistentes problemas técnicos da Aurilândia. A simples leitura do texto citado, bastou para lhe encher de coragem e ousadia. Aguiar desejava promover a revolução de sua vida. Ele nunca foi masoquista. Nada iria o deter! Enfrentaria todos os perigos em busca de sua satisfação terrena e espiritual. No entanto, após alguns cigarros e horas de reflexão, a vontade acabou passando. Ele não deve acreditar muito em horóscopo. Seguimos em frente. Superamos o árduo confronto diante do Juventus relatado aqui anteriormente. Agora, a reedição do duelo mineiro.

A linha de transmissão estava perfeita. Dentro de instantes, a Aurilândia, com seu potente som estilo anos 70, transmitiria Villa Nova e Democrata, pela quinta rodada do grupo 14 da Série C. Os jogadores no gramado, mas nada de entrevistas. O equipamento de retorno explodiu de vez e lamentavelmente não beberei na fonte de sabedoria e eloqüência dos artistas do espetáculo. Uma pena. Vou desafiar minha miopia e me posicionar em uma das cadeiras da luxuosa cabine 3 do Alçapão do Bonfim...Bom...pelo menos no intervalo ganharia sanduíche de presunto e refrigerante. Para o Democrata, um chocolate bem amargo, envolto em papel clichê.

Primeiro ato. O Villa impôs um jogo veloz e altamente insinuante. O Democrata já desnorteado assistia à troca de passes e deslocamentos dos furiosos adversários. Minuto 6. O Leão ataca e ameaça pela esquerda da entrada de área; Paulo César bate cruzado, o disparo sai fraco, mas encontra Fabinho pelo caminho. O atacante domina e finaliza no rodapé direito do pobre goleiro Alencar. Êxtase no Alçapão. O primeiro gol de um atacante villa-novense na competição. Suor e lágrimas.Villa 1x0 Democrata.

A pressão seguia avassaladora. O Leão exibia uma nova e irresistível face marcada por um ritmo alucinante. Minuto 13. Uma seqüência fatal. Emerson destila seu veneno em cobrança de escanteio pela ponta direita; Paulo César cabeceia, Alencar espalma e Rômulo apanha o rebote na pequena área. Villa 2x0 Democrata. Precoce velório na transmissão da Globo Valadares. O beijo na viúva parecia já iminente.

Em meio à euforia das testemunhas em estado de graça, o Villa reduziu sua intensidade e procurou resgatar o fôlego inicial com a troca de passes burocráticos nas intermediárias do gramado. O Democrata percebeu nessa mudança de postura villa-novense, a chance de alcançar uma improvável reação. A Pantera, com abusada agressividade, passou a ocupar os espaços no campo de ataque e conferir minutos de alta competitividade à partida. O articulador Thiago Silva, improvisado como atacante, descolou um ataque pela direita, arranca, invadiu a área e adiantou a gorducha; percebendo o erro, imediatamente buscou o contato adversário e caiu na terra prometida.

O árbitro marcou a contestável penalidade. A esperançosa Globo Valadares vibrou na expectativa da redenção. Everton na cobrança. Glaysson no centro da meta. A torcida forasteira amaldiçoa o milagreiro rechonchudo. Malditos yankees valadarenses. Tudo pode mudar.

(continua)

sábado, 4 de agosto de 2007

De The Doors para Pirulito



This is the end Beautiful friend

This is the end

My only friend, the end

Of our elaborate plans, the end

Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end

l"I never look into your eyes...again

Can you picture what will be

So limitless and free

Desperately in need of some stranger's hand

In a...desperate land

Lost in a Roman...wilderness of pain

And all the children are insane

All the children are insane

Waiting for the summer rain, yeah

There's danger on the edge of town

Ride the King's highway, baby

Weird scenes inside the gold mine

Ride the highway west, baby

Ride the snake, ride the snake

To the lake, the ancient lake, baby

The snake is long, seven miles

Ride the snake...he's old, and his skin is cold

The west is the best
Get here, and we'll do the rest

The blue bus is callin' us
Driver, where you taken' us

The killer awoke before dawn, he put his boots on

He took a face from the ancient gallery

And he walked on down the hall

He went into the room where his sister lived, Paid a visit to his brother, and then he

He walked on down the hall, and

And he came to a door...and he looked inside

Father, yes son, I want to kill you

Mother...I want to...fuck you

C'mon baby, take a chance with us

And meet me at the back of the blue bus

This is the end Beautiful friend

This is the end My only friend, the end

It hurts to set you free

But you'll never follow me

The end of laughter and soft lies

The end of nights we tried to die

THIS IS THE END

The Doors, The end


ps: Flávio Lopes é o novo técnico do Villa. Ele assumiu a equipe na terça-feira 24. Próximo destino: Nova Lima, 29 de julho, quinta rodada- VILLA NOVAX DEMOCRATA-

R$1,20



João Bosco não suportava mais tanta amargura e frustração em seu viver. O torcedor presidente andava macambúzio, sorumbático e cabisbaixo pela cidade; o bon vivant deixara de apreciar a beleza das moçoilas nas arquibancadas. Os parentes e amigos estavam extremamente preocupados e já pesquisavam livros de auto-ajuda nas mais inóspitas prateleiras quando o inevitável aconteceu no início da noite de domingo: o nobre mandatário villa-novense não se conteve, abandonou o resignado estilo circunspecto que adotara e explodiu em fúria com o derradeiro apito que encheu de lancinante ira o alçapão do Bonfim. O zero a zero estampado no mambembe placar manual alertava para a necessidade da mudança imediata. Bosco precisava agir e buscar alternativas para trazer alívio e alegria para seu coração. A metralhadora giratória foi sua arma e seu bálsamo: o terceiro empate do Villa na competição, o jejum de vitórias, a virgindade do ataque, embalaram o discurso presidencial solenemente realizado ao lado das cabines de imprensa. João Bosco foi fatal. A era Pirulito, conforme previra Belchior, chegava ao fim.


Um nefasto acordo. Villa Nova e Juventus decidiram nos torturar ao longo de todo o confronto válido pela quarta rodada do grupo 14. A primeira etapa teve o goleiro Marcelo como testemunha ociosa da partida; o gentil anfitrião Villa Nova simplesmente não conseguiu finalizar contra o gol adversário. O Juventus, um medíocre moleque travesso, se sentiu à vontade diante de tamanho conforto e, impulsionado pelos poucos insanos torcedores que vieram da Mooca, avançou trôpego em busca da felicidade.


O zagueiro Renato cobrou uma falta traiçoeira que passou assombrando Glaysson. Na seqüência, o goleiro milagreiro, no melhor estilo Dida-Aldair Atlanta-96, se chocou com o zagueiro Carciano. No entanto, a gorducha, em veemente protesto contra os maus tratos sofridos, decidiu partir rumo à linha de fundo, após toque final de um infeliz atacante paulistano. A primeira etapa seguiu com toques laterais na metade do gramado, passes errados e lançamentos aéreos precipitados. O horror,o horror!... O intervalo foi uma benção divina, saudada por todos os presentes.

No entanto, eles não desistiram e infelizmente voltaram para o segundo tempo, numa atitude de lamentável afronta a todos que admiram o futebol. Pirulito, na eterna luta pela sobrevivência, promoveu mudanças triviais que não alteraram o panorama da partida. O time permaneceu sem finalizar contra a meta grená e, ainda nos primeiros minutos, o nervosismo e a precipitação tomaram conta do gramado esburacado. Quanto mais a torcida cornetava ensandecida, mais erros táticos e bisonhos aconteciam. O zagueiro Rodrigão, sempre presença marcante na área inimiga, era quem se apresentava para fazer os levantamentos; Rômulo, notório centroavante de referência na área, se deslocava pela ponta direita, tentava dribles e tropeçava em suas próprias pernas.


O Leão afoito e desnorteado passou a assistir ao assanhado ataque adversário. Elias, autor do gol na Javari, protagonizou duas belas oportunidades. Primeiro disparou de longa distância liquidando por pouco para fora; depois, já na grande área, finalizou forte no rodapé direito, exigindo grande elasticidade de Glaysson, que, apesar de um tanto roliço, mandou pela linha de fundo. O Villa seguiu alçando repetidas bolas ao ataque, consagrando insistentemente a alta defesa visitante que apenas em um momento de distração, já aos 40 minutos, permitiu que Paulo César cabeceasse com perigo à direita do gol de Marcelo.

As vaias e xingamentos alcançaram seu ápice com o apito final do árbitro João Batista Arruda. Villa Nova e Juventus desonraram a Série C tupiniquim. Os jogadores despejaram suas justificativas triviais. Pirulito, em seu último suspiro, ainda lamentou a atuação de sua equipe, analisou os erros e, em mais uma edição do Arquivo Confidencial, falou um pouco mais de sua vida guerreira. No entanto, João Bosco já havia tomado sua decisão. Na outra partida da rodada, o Democrata venceu o Madureira em Moça Bonita por dois a zero. Fique com a ficha técnica.


Ficha Técnica

Villa Nova 0 x 0 Juventus - domingo- 22 de julho- quarta rodada

Local: Estádio Municipal Castor Cifuentes, Nova Lima-MG Árbitro: João Batista Arruda-RJ


Renda: R$ 4280 Público: 761 pagantes Cartões Amarelos: Paulo César (Villa Nova) ; Édson Araújo e Johnny (Juventus)

Villa Nova: Glaysson; William César (Édson), Rodrigão, Carciano e Raniery; Éverton Araújo, Émerson (Braitner), Paulo César e Márcio Diogo (Bruno Cardoso); Fabinho e Rômulo Técnico: Pirulito


Juventus: Marcelo; Valdir, Levi, Renato e João Paulo; Almir, Márcio Senna, Édson Araújo (William) e Élder (Júnior); Johnny (Fabinho) e Elias Técnico: Márcio Bitencourt.


Nota de esclarecimento: A Aurilândia transmitiu todo o pesadelo graças ao esforçado Cazuza, o funcionário da Telemar comparado anteriormente ao seu Madruga neste blógui e que, após resolver um novo problema que ameaçava a transmissão, aproveitou nossa felicidade pueril para pedir uma camisa do Villa Nova. No entanto, para conferir o toque dramático ao relato, logo na abertura da transmissão, Jota Moreira e Aguiar passaram a murmurar em meus ouvidos até que se silenciaram por completo em meio aos ruídos da torcida já enfurecida. Isso mesmo...Os problemas de retorno persistiram, me obrigando a lutar para me manter na transmissão. Não faltaram situações cômicas e constrangedoras. Quem sabe em um futuro próximo perca o pudor e conte em detalhes o que se passou. Por enquanto, só informo que, após infinitas peripécias ao longo da partida, fiquei devendo a bagatela de R$ 1,20 à senhora do bar na esquina do Alçapão do Bonfim. Prometo pagar. É sério. Não foi só o Villa que ficou em dívida.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

De Belchior para Pirulito



Você não sente e não vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

O que algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo

E precisamos todos rejuvenescer


Nunca mais seu pai falou: “- she’s living home

E meteu o pé na estrada like a rolling stone...”

Nunca mais você buscou sua menina

Para correr no seu carro... (loucura, chiclete e som)

Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido

O dedo em “v”, cabelo ao vento

Amor e flor, que é de cartaz

No presente a mente, o corpo é diferente

E o passado é uma roupa que não nos serve mais


Você não sente e não vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

O que algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo

E precisamos todos rejuvenescer


Como Poe, poeta louco americano

Eu pergunto ao passarinho: “- blackbird o que se faz?"

E raven never raven never raven

Blackbird me responde: “- tudo já ficou para trás"

E raven never raven never raven

Assum preto me responde: “- O PASSADO NUNCA MAIS


Velha roupa colorida

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Cenas da Javari





Caspita!


O Baroni é uma figura simpática, um vovô carinhoso que ama a adrenalina cotidiana de seu trabalho. Aposentado desde 1999, ele passou certo tempo em casa, foi rapidamente rotulado como “chato” por seus familiares e decidiu voltar ao batente. Baroni voltou a sorrir; agora trabalha na Telefônica e descasca pepinos pelas ruas e postes paulistanos. Ahhh...lamento não ter fotografado o Baroni. O destino o levou à Javari naquela tarde vazia; passei ao seu lado nas escadas enlameadas, quando, ainda no intervalo de partida, avançava em sentido contrário para comprar alguma guloseima com a velhinha de acentuado sotaque italiano que chamava a todos de “lindo” ou “linda”. Depois descobri a razão: um simples chocolate custava dois reais; realmente essa velhinha tem que ser simpática para sensibilizar algum otário.


Bom...enquanto me deliciava com o chocolate, retornei à varanda de imprensa e logo avistei Baroni em ação, contorcendo um oceano de fios. Os jogadores já estavam de volta ao gramado. Os carcamanos entoavam seus cantos patéticos e já se posicionavam para atormentar o milagreiro Glaysson durante todo o restante do confronto. Alô Rádio Aurilândiaaaa!!! Piedade. Alô Rádio Aurilândiaaa! Misericórdia. Começa a segunda etapa. Minuto 5. O Villa avança, abre espaços, evolui no campo de ataque, rompe o catenaccio juventino e logo conquista território pela meia-esquerda. A ousada força aérea do Leão se apresenta na área inimiga: Raniery faz o lançamento, a gorducha rasga os céus da Mooca, Rômulo ajeita de cabeça, ela viaja e encontra o zagueiro Rodrigão, que já na pequena área, a golpeia com fúria, cabeceando e castigando as redes de Marcelo. Caspita! Porco dio! Dio cane! Os velhinhos, as adolescentes histéricas das sociais, os carcamanos das arquibancadas, todos vociferam e lamentam a desgraça. Juventus 1x0 Villa, informa o singelo placar eletrônico da Javari...podem acreditar, ele existe.


O Leão sente o drama com sabor de calabresa e avança em busca do golpe fatal. Baroni também joga junto, aposta em suas peripécias, mantém o semblante decidido, sempre na luta entre o bem e o mal. A vida dele está em jogo, nunca vai desistir, ele não é disso...ei Aguiar! Dispare seu bordão “Alô Aurilândia”!!...Jota Moreira! Pare de falar mal da vida alheia e ouça! Sim...Lágrimas e sorrisos na conexão São Paulo-Nova Lima. A transmissão invade as ondas do rádio. Ainda chego a descrever o gol de Rodrigão e empurrar o Villa ao ataque com palavras histriônicas. Aguiar, visivelmente emocionado, narra alguma jogada e lê um reclame, quando o retorno diz adeus e a transmissão volta para Jota Moreira e os flashes informativos até o final do confronto. Caspita! Porco dio! Dio cane!


Foram cerca de dois mágicos minutos de transmissão. Foi como se a Rua Javari tivesse sido palco de uma das fulminantes lutas de Tyson nos anos 80. Mas não...Juventus e Villa Nova continuavam se enfrentando e protagonizando lances quixotescos. O Leão domina a posse de bola, toma conta da partida. Exibe autoridade e ameaça o gol juventino; em mais uma jogada aérea, por um triz não marca pela segunda vez. No entanto, o ímpeto villa-novense perdeu fôlego após essa investida furiosa. O Juventus, comandado pelo pobre Márcio Bittencourt, que um dia comandou como pôde o time da MSI, decidiu se lançar ao ataque e desafiar seus contundentes limites técnicos. O moleque travesso, impulsionado por suas testemunhas da Mooca, ganha o campo de ataque; a dupla country Johnny e Willian encara a defesa villa-novense. Minuto 25. Um disparo cruzado para o gol. Glaysson comete o pecado e oferece o rebote desejado. O rápido atacante Elias, que entrara na vaga do já folclórico Edson Pelé, finaliza sem piedade. Empate. Maldição na Javari. Juventus 1x1 Villa.

O grogue Villa não compreende o que se passa. Baroni muito menos. O mistério da queda da transmissão deu um toque enigmático à varanda de imprensa da Javari. Baroni deseja a resposta; questiona os equipamentos, dispara telefonemas, mas nada encontra. Baroni, melhor desistir. Enquanto isso, Rachel Mattos, a dona da rádio, vocifera contra todas as companhias telefônicas registradas no território nacional. Bom...mas isso também parece ser tradicional.

Distante das turbulentas polêmicas dos bastidores radiofônicos, o crepúsculo de jogo se aproxima em meio aos gritos da gente juventina. O Villa acuado e sorumbático resiste à pressão grená e só não sofre o gol da reviravolta graças à gentileza dos atacantes adversários. Fim de partida. Nada de vencedores e derrotados. A quarta-feira 18 não permite comemorações. Mas o comandante Pirulito, se assim desejar, pode chorar. Nada mais apropriado e aguardado. Na outra partida do grupo, Democrata e Madureira empataram em zero a zero. Fique com a ficha técnica.

3ª Rodada – 18/07/2007 – quarta-feira Juventus-SP 1x1 Villa Nova

Gols: Rodrigão aos 5’/2T (Villa Nova). Elias aos 25’/2T (Juventus)

Local: Estádio Conde Rodolfo Crespi – Rua Javari (São Paulo-SP)

Público: 196 renda: R$3.100,00

Árbitro: Róbson Soares (RJ) Cartões Amarelos: Fabinho (Juventus); Fabinho e Raniery (Villa Nova-MG)

Juventus: Marcelo; Ivan (Fabinho), Renato, Valdir e Levi; Almir, Joãozinho, Júnior e Elder (Willian) e Jonny; Édson Araújo (Elias) e João Paulo. Técnico: Márcio Bitencourt

Villa Nova-MG: Glaysson; Willian César, Rodrigão, Carciano e Raniery; Ewerton Araújo (André), Paulo César, Émerson e Márcio Diogo; Fabinho (Breitner) e Rômulo (Bruno Cardoso). Técnico: Pirulito

Próximo destino: Nova Lima- VILLA NOVA X JUVENTUS 22 de julho- 16:00

São São Paulo quanta dor...



Com um nó no peito, com a cara dura, lhes apresento o eterno futebol. Meus caros, vocês certamente sabem que sempre é preciso cumprir a tabela, que a vida coleciona cicatrizes, dores pungentes, mas sequer cogita interromper seu caminhar. Por isso, por favor: não culpem a Rua Javari, não a qualifiquem como insensível e maldita. Ela é inocente, mais que isso, ela é vítima. Nada pode fazer, a não ser, acompanhada por um ostensivo céu cinzento, testemunhar o início de Juventus x Villa Nova, às três da tarde de uma quarta-feira, pela terceira rodada do grupo 14 da Série C tupiniquim. Chore vítima Javari, chore Mooca, mas o faça com vontade, com fúria, honrando a intensa dramaticidade italiana. O dia é de lágrimas, o pudor partiu sem destino. Tudo conspira a favor do mal, nossa impotência não conhece limites. Ah sim... a Aurilândia mantém-se em silêncio absoluto, não por respeito, mas graças aos tais problemas técnicos, evidentemente. Cabines... cabines não há. Nunca houve. A Javari, ou melhor, o estádio Conde Rodolfo Crespi é um mendigo soberbo que sobrevive de lendas e da paixão caricata de alguns. Espectadores privilegiados que somos, acompanhamos toda a primeira etapa em uma das varandas de imprensa, ao lado de cinegrafistas amadores e repórteres de obscuras emissoras paulistanas. A pobre condição humana fica mais evidente a cada passe errado, a cada furada bizarra, a cada disparate miserável de juventinos e villa-novenses. Desculpem. Em um cenário de melancolia desenfreada, a ilusão e a tolerância perdem suas forças, tudo parece dolorosamente claro e inevitável. São Paulo, quanta dor, quanto amor...

O minuto de silêncio em respeito às vítimas do acidente da TAM não sensibilizou uma parte do público presente à Rua Javari. Os poucos juventinos mais exaltados, posicionados atrás de um dos gols, mantiveram seus imbecis gritos de guerra, ignorando primeiro a execução do Hino Nacional e depois a dor que, de tão comovente e brutal, se podia tocar. Malditos colonos. Para o crime, imediato castigo: São Pedro, que assistia ao jogo direto do céu (talvez o único local com transmissão ao vivo da Série C), novamente despejou uma forte chuva que tomou conta da Mooca, ensopando os carcamanos e garantindo um toque gladiador a um jogo que oscilava entre o tedioso e o cômico. No entanto, pouco depois o sol surgiu imponente, fazendo divertida companhia à chuva faceira. Sim...isso mesmo... Os fenômenos meteorológicos paulistanos eram mais instigantes que a própria partida.

Um confronto cadenciado, recheado de erros e carente de oportunidades incisivas de gol. O Villa Nova, ainda traumatizado com a impactante derrota em Governador Valadares, buscava alternativas. O sábio comandante Pirulitowsky, que pela manhã me endereçou palavras de gratidão através de Aguiar, promoveu anunciadas mudanças na equipe inicial, buscando conferir poder de fogo ao ainda virgem ataque villa-novense. O jovem Rômulo, típico centroavante fixo na área, estreou já como titular. O leve Márcio Diogo foi recuado para o meio, Willian César assumiu a ala direita. No entanto, a agressividade desejada não foi alcançada, a não ser em dois avanços que resultaram em gols corretamente anulados pela arbitragem carioca. O zero a zero reinou soberano ao final da primeira etapa.

A Aurilândia mantinha-se em obsequioso silêncio. Chegamos por volta do meio-dia ao estádio e inicialmente nos indicaram uma varanda de imprensa destinada aos visitantes e localizada no lado oposto às cadeiras sociais. No entanto, após frustrantes tentativas de acionar a linha de transmissão e captar o retorno da rádio através dos fios indicados (todos os fios nos presenteavam com a programação da Eldorado de São Paulo), como marionetes de um sistema opressor, fomos enviados para a outra extremidade da Javari, para a varanda de imprensa principal, onde tradicionalmente as gigantes Jovem Pan, Bandeirantes e Record se acotovelam sob pombos insaciáveis, em dias, cada vez mais raros, de jogos mais badalados contra os grandes do estado.


Bom....o bendito retorno até foi captado, mas a linha de transmissão seguiu como algo distante, provavelmente habitando uma remota ilha da fantasia, onde todas as rádios são felizes e a série C é um oásis sem fim. A situação permaneceu inalterada ao longo de toda a primeira etapa; Aguiar disparava informações via celular e chegou a entrar ao vivo em um flash “especial” nos últimos instantes do ato inicial. Jota Moreira saudou o “grande esforço e trabalho” de Rachel Matos, a dona da rádio e personagem que certamente será ainda muito citada neste blógui. Ahh...Jota, continue assim, só você mesmo para nos arrancar gargalhadas nesses momentos de amargura...Obrigado.


Intervalo de reflexão: Ainda na primeira rodada do campeonato, as figuras da Globo Valadares sofreram na Javari. Não encontraram o paradeiro da linha e acabaram transmitindo toda a partida via celular, o que resultou em uma conta estratosférica e uma saraivada de marimbondos da diretoria enfurecida. Além disso, a rádio concorrente em Nova Lima não estava na Javari. “Ora...com um cenário como esse, o que vier será lucro”, pensei com um otimismo desolado. Até que Baroni chegou... (continua) Enquanto isso, fique com a letra de "São Paulo, Meu Amor", autoria do baiano paulistano Tom Zé (música perfeita para dias assim)


São São Paulo quanta dor São São Paulo meu amor

São oito milhões de habitantes De todo canto e nação Que se agridem cortesmente Correndo a todo vapor E amando com todo ódio Se odeiam com todo amor São oito milhões de habitantes Aglomerada solidão Por mil chaminés e carros Gaseados a prestação Porém com todo defeito Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor São São Paulo meu amor

Salvai-nos por caridade Pecadoras invadiram Todo o centro da cidade Armadas de ruge e batom Dando vivas ao bom humor Num atentado contra o pudor A família protegida O palavrão reprimido Um pregador que condena Um festival por quinzena porém com todo defeito Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor São São Paulo meu amor

Santo Antonio foi demitido E os ministros de Cupido Armados da eletrônica Casam pela tevê Crescem flores de concreto Céu aberto ninguém vê Em Brasília é veraneio No Rio é banho de mar O país todo de férias E aqui é só trabalhar Porém com todo defeito Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor São São Paulo meu amor

sábado, 21 de julho de 2007

Ataque ao Pirulito


Democrata 3x2 Villa Nova. Um time arrasado se dirigiu ao vestiário. O rápido e ineficiente Fabinho ignorou a reportagem. Coitado. Emerson lamentou a derrota, mas demonstrou tranqüilidade graças à boa atuação individual. Carciano, o mais desolado de todos, estampava com suor e lágrimas, sua pungente decepção. Pirulito, ainda ao lado do banco de reservas, já conversava com o repórter da rádio Globo de Valadares, quando sua voz tomou conta do atrevido microfone da Aurilândia. O técnico, aparentando uma tristeza comedida, reafirmava seu amor pelo Villa e destacava que não colocaria o cargo à disposição; sairia apenas se fosse o desejo da diretoria. Na seqüência, ainda analisou o desempenho do time, comentou a fragilidade física do ataque ainda virgem, prometeu alterações, reclamou de um gol anulado e ainda desafiou para um duelo o bandeirinha Jair Albano Felix, com quem discutiu ao longo da partida. Detalhe: Felix é filho do ex-jogador Jair Bala, amigo de longa data do divertido chorão Pirulitovsky.

Na seqüência, devido a um problema de retorno, atropelei involuntariamente o falante Jota Moreira e iniciei a entrevista com o atencioso e extremamente abatido presidente João Bosco. O repórter da Globo Valadares, sempre atento, sorrateiramente se aproximou do local para dar o bote e destilar o seu veneno. Não demorou muito. Bastou perguntar qual era a situação de Pirulito para o moço complementar com um olhar malicioso e potente entonação de rádio AM: Pirulito disse agora há pouco que entrega o cargo.

João Bosco, um tanto atônito, afirmou que conversaria primeiro com o técnico e que seria difícil arranjar um novo comandante em meio à competição. O maldoso repórter, satisfeito com a resposta, se afastou em meio a orgasmos múltiplos. Aproveitando o momento e tomado de verdadeira sede de justiça, prossegui a entrevista e informei ao nobre presidente que Pirulito, pelo menos na bendita Aurilândia, havia dito exatamente o oposto. João Bosco se limitou a dizer que conversaria com ele para saber o que raios tinha de fato dito às rádios. Pirulito, o boa praça, me agradeceria dias depois. Como cidadão brasileiro ciente de meus deveres cívicos, impedi o aumento do número de desempregados das estatísticas oficiais. Presidente Lula, o senhor me deve essa.

Próximo destino: São Paulo, quarta-feira, 18 de julho. 15:00 h- JUVENTUS x VILLA NOVA


Rômulo Mendonça

Vou chorar, desculpe mas eu vou chorar



O título remete a uma conhecida música da dupla Leandro e Leonardo. Sim...isso mesmo. Eu, que desde tempos imemoriais, odeio sem moderação qualquer vertente sertaneja-caipira musical, me inspirei em Leandro e Leandro, para iniciar mais um texto do imberbe, mas já sofrido blógui Villaontheroad. Tenebroso sinal. Notória evidência de desespero e frustração que, apesar do tom melancólico e piegas, você não terá como contestar e recriminar... Basta dar asas à imaginação e acompanhar o relato que virá a seguir...Desculpe, mas você também vai chorar...

Não teve diálogo. A árbitra mineira Cássia Alves ignorou nossas dificuldades e pontualmente deu início à partida. (Maldita Cássia. Essa dona sem misericórdia ainda vai ser comentarista da Rádio Aurilândia e sofrer bastante....ah vaiii...) Democrata e Villa Nova, pela segunda rodada do grupo 14 da Série C, entram em ação. Logo aos três minutos, programação musical, discursos de Jota Moreira na Aurilândia e rápida explosão de palavrões no Mamudão em Governador Valadares. O zagueiro Rodrigão, com uma cobrança de falta potente e certeira, atinge o ângulo superior esquerdo da meta inimiga, marcando o primeiro gol do Villa Nova. O goleiro Alencar, figura nada confiável, chegou a tocar sutilmente na gorducha, mas não o suficiente para impedir o rugido do Leão. Aguiar, amuado na cabine A-6, saca o celular e dispara a informação rumo aos estúdios. Jota “escusas” Moreira interrompe alguma balada romântica qualquer, talvez de seu companheiro Jota Quest, e anuncia com entusiasmo a boa nova. Na seqüência, exibindo notória veia política, despeja promessas de rápida solução dos problemas e conseqüente transmissão do prélio. Esse Jota Moreira...

A partida ganha em intensidade e tensão. A platéia esbraveja, o locutor do estádio implora: Atenção torcedor. Por gentileza, não atire objetos ao gramado. O Democrata busca o ataque e o Villa se retrai assustado. Cenário perfeito para a crônica do gol de empate anunciado. Primeiro ato, minuto 22. A Pantera avança pela direita, Thiago Silva, habilidoso camisa dez, articula a jogada. Invasão de área. Cruzamento na boca do gol e finalização de Ademilson. Maldição no Mamudão. O Villa entra em pane. Jota Moreira, por favor, interrompa Felipe Dylon e anuncie a desgraça com voz embargada. Obrigado.

Segue a primeira etapa: Jota Quest toca para Zeca Pagodinho, domina Glaysson, Red Hot Chili Peppers e Grupo Revelação (?) aguardam o lançamento, recupera o Democrata, Ana Carolina encara a marcação, Armandinho (?) acelera, cartão amarelo para Carciano, Shakira rebola com categoria, Rio Negro e Solimões avançam com Roberta Miranda, gol anulado do Villa...Apesar das sentidas ausências de Leandro (in memorian) e Leonardo, essa eclética e criteriosa programação musical da rádio Aurilândia embala minhas emoções à margem do gramado, posicionado sempre de pé, distante de Pirulito e seus ansiosos bancários.

O feitiço do tempo gradualmente torna a temperatura mais amena e agradável. O Black Eyed Peas canta freneticamente, tentando seduzir o ouvinte insatisfeito, enquanto o Democrata acelera pela esquerda. Glaysson, pseudo-milagreiro, é driblado pelo Jean Macapá. O centroavante, objeto de desejo de João Bosco, aplica um belo giro e decreta o segundo gol da Pantera aos 39 minutos da primeira etapa. A loira vocalista solta um respeitável agudo. Ela parece dizer: Jooootaaaaa! O Aguiar já ligou...faça o bom jornalismo de sempre e informe com o pesar que a notícia merece!!!yeahhhhhhh...

O primeiro tempo termina ao som de um simpático pot-pourri do rei Roberto Carlos...Eu te darei o céu meu bem e o meu amor tambééémmmm, a torcida comemora, eu sou terrívellll, vou lhe dizerrrrr, Pirulito reclama da arbitragem, estou amando loucamente a namoradinha de um amigo meeeuuuuu,os jogadores caminham em direção aos vestiários,Splish!!! Splashhhh!!!,Parei na contramão!!! Desolador intervalo de partida.

A segunda etapa começa e o Villa adota uma postura mais ousada e corajosa. O Leão ocupa o território adversário, mas não consegue finalizar com eficiência. Os jogadores correm, se esforçam, ignoram o macarrão da noite anterior. Muita força física e intensidade. Ao lado do campo, ouço um sucesso de Daniel com meu ar blasé quando o improvável acontece. Não, o Pirulito não invadiu o campo para elogiar a arbitragem. Não foi isso. Foi a nossa jornada que teve início aos vinte e poucos minutos...espero que acreditem...ora...por que mentiria?

Ahhhh....Essa é a Aurilândia que eu não conheço. Vamo que vamo. O Democrata ameaça apenas em contragolpes. O Villa permanece insistindo; Emerson descola um atalho pelo miolo, aplica dois chapéus consecutivos e é travado no instante do disparo. Paulo César domina na entrada de área e dispara cruzado, à esquerda do gol. Não tem problema. Minuto 39. Um lançamento do Leme ao Pontal parte da direita. O zagueiro Carciano, indesejável visita à área inimiga, amortece com requinte a bola no peito e dispara forte no rodapé direito de Alencar. Um golaço que não merece a clandestinidade da Série C.
A rádio Aurilândia incrivelmente narra o gol (obrigado John Coffey). Os villa-novenses se emocionam com o esforço recompensado, comemoram com fúria, mas assistem passivos ao ataque seguinte do Democrata, impulsionado por sua irada torcida. Anderson Toto evolui pela direita e toca para Rafael que, na grande área, finaliza com calma na saída de Glaysson “com medo do escuro” Coffey. Traiçoeiro futebol. Êxtase do Demo. Uma das mais dolorosas maneiras de se perder uma partida. Os quatros minutos de acréscimos são inúteis. O impacto do gol foi avassalador.
O Democrata vence com alta carga de dramaticidade nos instantes finais e alcança a liderança isolada com 4 pontos. Os jogadores do Villa, ao som dos fogos de artifício, literalmente desabam no gramado na companhia da lanterna do grupo 14, com seu humilde pontinho. Na outra partida da rodada, Madureira e Juventus empataram sem gols (ambos estão com dois pontos). A viagem de volta seria longa e repleta de lamentações...Ah...melhor encerrar por aqui. Não disse que você iria chorar? Fique com a ficha técnica.


Ficha Técnica

Democrata-GV (MG) 3 x 2 Villa Nova( MG)

Data: Sábado, 14/07/2007, 16:00 h

Local: Mamudão, em Governador Valadares

Público pagante: 1.996 Renda: R$ 10.720

Arbitragem: Cássia Alves Dias (MG) Auxiliares: Rodrigo Otávio Baeta (MG) e Jair Albano Félix (MG) Cartões Amarelos: Ivonaldo e Alencar (Democrata); Carciano, Jackson e Raniery (Villa)

Gols: Rodrigão (V), Ademilson (D), Jean Macapá (D), Carciano (V) e Rafael Souza (D)

Democrata: Alencar; Miguel, Riso Surubim e Fábio Paulista; Ivonaldo, Húdson, Henrique, Thiago Silva (Toto) e Jean Batista; Jean Macapá (Biro Gomes) e Ademílson (Rafael Souza) Técnico: José Maria Pena

Villa Nova: Glaysson; Édson (William), Rodrigão, Carciano e Raniery; André (Clodoaldo), Jackson (Bruno Cardoso), Paulo César e Emerson; Márcio Diogo e Fabinho. Técnico: Pirulito
Rômulo Mendonça

terça-feira, 17 de julho de 2007

À espera de um milagre- parte 2



O blógui informa: O goleiro villa-novense Glaysson é a versão tupiniquim do ator Michael Clarke Duncan, eternizado nas telas do cinema, com a interpretação do sobrenatural John Coffey em “À espera de um milagre”, estrelado por Tom Hanks. A informação foi constatada na sexta à noite, com a exibição da dramática e bela película no aparelho televisor do quarto 234 do Century Park Hotel, localizado em Ipatinga, cidade na região do Vale do Aço das Minas Gerais. Glaysson não foi informado. Duncan, muito menos.

O goleiro, mesmo que não tenha assistido ao filme, provavelmente ficaria com o ego massageado ao ser comparado a um milagreiro. No entanto, mesmo que a semelhança ultrapasse realmente o aspecto físico, é preciso destacar: os profissionais da arte do milagre, sempre preocupados com a manutenção do glamour de sua condição singular, não costumam acionar seus poderes em situações triviais, mas apenas em circunstâncias de real e iminente perigo. Por isso, o sempre sábio técnico Pirulito, conhecedor dos segredos e mistérios da vida, prefere uma partida tranqüila, um confronto ameno, com um time eficiente e seguro na marcação, atacando com equilíbrio e não propiciando indesejáveis momentos de sufoco. Pirulito não é adepto do “futebol-milagre”, ele prefere Glaysson e não uma figura exótica e yankee dos anos 30 defendendo sua meta: “nada de John Coffey por aqui!” diria ele, com seu estilo simplório e temperamental.

Além disso, talvez o goleiro do Leão não passe de um sósia menos badalado. É melhor desconfiar. Foi com essa pragmática “filosofia” que a delegação villa-novense desembarcou por volta das seis da noite da sexta-feira em Ipatinga, onde ficaria até o final da manhã seguinte, quando retornaria ao ônibus que a levaria rumo à cidade de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, mais especificamente ao estádio Mammoud Abbas, palco do embate diante do Democrata Pantera, pela segunda rodada do grupo 14 da Série C.

A partida era fundamental na seqüência da competição. Os jogadores chegaram demonstrando muita garra, muita fome de bola, de vitória e de macarrão, frango, carne de porco, feijão, mais macarrão, sem esquecer do doce de leite ao final. O jantar de sexta, testemunhado por incrédulas funcionárias, foi devastador. Aliás, Glaysson pode não ser o John Coffey, mas se continuar comendo daquele jeito, vai ficar mais parecido com o Michael Clarke Duncan do que o próprio Michael Clarke Duncan (comentário em off: Duncan ostenta mais de 130 quilos). Após a singela refeição, cada atleta se dirigiu ao seu aposento para acompanhar o restante da cerimônia de abertura do Pandemônio do Rio de Janeiro e recitar um pouco de Camões e Fernando Pessoa enquanto Morfeu não chegasse. O vigia Pirulitovsky, sempre antenado e caminhando sorrateiramente pelo hotel, localizado em um amplo espaço semelhante a um quartel do exército, aparentemente não teve trabalho. A noite avançou serena no Vale do Aço.

Na manhã seguinte, após um apetitoso café da manhã, avançamos pelas estradas do leste mineiro, sob um céu azul e um sol impiedoso, passando pelos progressistas municípios de Naque e Periquito, até alcançar finalmente a escaldante Governador Valadares, a cidade repleta de semáforos, carente de placas e que desconhece a estação denominada inverno. Logo de início, encontramos um autêntico desafio: encontrar o estádio Mamudão. Pedíamos informações aos pedestres valadarenses que ainda não partiram para Miami, Texas e Baltimore. Todos eles nos ofereciam referências vagas e imprecisas. Chegamos a cogitar uma conspiração arquitetada pela Vênus Platinada: na realidade, o Mamudão seria uma obra de ficção construída pelos computadores globais, nos iludindo desde nossa mais tenra infância. Ahhhhh...que isso...chega de besteira!!! Olha lá o Mamudão! É ele! É ele! É ele! É ele? Não...é um cemitério....ahhhh....

Bom...depois desse pequeno equívoco, finalmente chegamos ao estádio e, após alguns degraus superados em poucos minutos, já estávamos na apertada cabine A-6 (ainda sem energia elétrica) do então deserto e real Mammoud Abbas que, pelo menos em um dos seus muros laterais, realmente lembra um cemitério. Sem hesitações, vamos logo aos detalhes e à utilidade pública: inicialmente, senhores e rapazes, atentem-se para o fato de que o banheiro masculino do Mamudão não possui papel higiênico e nem lavatório. Sendo assim, após utilizar o recinto, olhe para um lado, olhe para o outro e, com um movimento ágil e decidido, invada o similar feminino. Lá encontrará um lavatório! Não é o máximo? Agora, se necessitar de papel higiênico, é melhor rezar...

O Mamudão também se encontra mutilado. Devido à alegada falta de segurança, as arquibancadas metálicas, que compreendem mais da metade das dependências do estádio, foram interditadas por ordem judicial. Uma grande bandeira de uma torcida “organizada” da Pantera ocupou o grande vazio imposto pelo Ministério Público. O torcedor tinha como opções apenas parcas arquibancadas atrás de um dos gols e também as próximas às cabines de imprensa e cadeiras sociais, limitando a capacidade do estádio a meros 3.000 espectadores. Um cenário favorável que talvez reduziria a intensidade da pressão ao Villa Nova, mas que não faria a menor diferença para nós, que, mesmo com todos os equipamentos corretamente instalados, tanto na cabine quanto ao lado do gramado, ouvíamos o retorno, mas não conseguíamos novamente nos comunicar com a bendita rádio Aurilândia.


O drama se repetia enquanto a hora do jogo se aproximava sem piedade. Os repórteres da rádio Globo de Valadares já disparavam seus clichês com tranqüilidade. Os jogadores já se aqueciam no gramado, os torcedores lentamente ocupavam os espaços permitidos. Prosseguíamos em silêncio. Culpa da Telemar? Culpa da própria rádio? Culpa da Al-Qaeda? Não tínhamos as respostas, éramos pobres vítimas de uma força oculta e maligna. Apenas sabíamos que diante de tantos obstáculos, talvez estivéssemos realmente “À ESPERA DE UM MILAGRE”, o milagre da transmissão radiofônica...Johnnn Coffeeeeyyy!!!!!

(continua) Rômulo Mendonça