sábado, 4 de agosto de 2007

R$1,20



João Bosco não suportava mais tanta amargura e frustração em seu viver. O torcedor presidente andava macambúzio, sorumbático e cabisbaixo pela cidade; o bon vivant deixara de apreciar a beleza das moçoilas nas arquibancadas. Os parentes e amigos estavam extremamente preocupados e já pesquisavam livros de auto-ajuda nas mais inóspitas prateleiras quando o inevitável aconteceu no início da noite de domingo: o nobre mandatário villa-novense não se conteve, abandonou o resignado estilo circunspecto que adotara e explodiu em fúria com o derradeiro apito que encheu de lancinante ira o alçapão do Bonfim. O zero a zero estampado no mambembe placar manual alertava para a necessidade da mudança imediata. Bosco precisava agir e buscar alternativas para trazer alívio e alegria para seu coração. A metralhadora giratória foi sua arma e seu bálsamo: o terceiro empate do Villa na competição, o jejum de vitórias, a virgindade do ataque, embalaram o discurso presidencial solenemente realizado ao lado das cabines de imprensa. João Bosco foi fatal. A era Pirulito, conforme previra Belchior, chegava ao fim.


Um nefasto acordo. Villa Nova e Juventus decidiram nos torturar ao longo de todo o confronto válido pela quarta rodada do grupo 14. A primeira etapa teve o goleiro Marcelo como testemunha ociosa da partida; o gentil anfitrião Villa Nova simplesmente não conseguiu finalizar contra o gol adversário. O Juventus, um medíocre moleque travesso, se sentiu à vontade diante de tamanho conforto e, impulsionado pelos poucos insanos torcedores que vieram da Mooca, avançou trôpego em busca da felicidade.


O zagueiro Renato cobrou uma falta traiçoeira que passou assombrando Glaysson. Na seqüência, o goleiro milagreiro, no melhor estilo Dida-Aldair Atlanta-96, se chocou com o zagueiro Carciano. No entanto, a gorducha, em veemente protesto contra os maus tratos sofridos, decidiu partir rumo à linha de fundo, após toque final de um infeliz atacante paulistano. A primeira etapa seguiu com toques laterais na metade do gramado, passes errados e lançamentos aéreos precipitados. O horror,o horror!... O intervalo foi uma benção divina, saudada por todos os presentes.

No entanto, eles não desistiram e infelizmente voltaram para o segundo tempo, numa atitude de lamentável afronta a todos que admiram o futebol. Pirulito, na eterna luta pela sobrevivência, promoveu mudanças triviais que não alteraram o panorama da partida. O time permaneceu sem finalizar contra a meta grená e, ainda nos primeiros minutos, o nervosismo e a precipitação tomaram conta do gramado esburacado. Quanto mais a torcida cornetava ensandecida, mais erros táticos e bisonhos aconteciam. O zagueiro Rodrigão, sempre presença marcante na área inimiga, era quem se apresentava para fazer os levantamentos; Rômulo, notório centroavante de referência na área, se deslocava pela ponta direita, tentava dribles e tropeçava em suas próprias pernas.


O Leão afoito e desnorteado passou a assistir ao assanhado ataque adversário. Elias, autor do gol na Javari, protagonizou duas belas oportunidades. Primeiro disparou de longa distância liquidando por pouco para fora; depois, já na grande área, finalizou forte no rodapé direito, exigindo grande elasticidade de Glaysson, que, apesar de um tanto roliço, mandou pela linha de fundo. O Villa seguiu alçando repetidas bolas ao ataque, consagrando insistentemente a alta defesa visitante que apenas em um momento de distração, já aos 40 minutos, permitiu que Paulo César cabeceasse com perigo à direita do gol de Marcelo.

As vaias e xingamentos alcançaram seu ápice com o apito final do árbitro João Batista Arruda. Villa Nova e Juventus desonraram a Série C tupiniquim. Os jogadores despejaram suas justificativas triviais. Pirulito, em seu último suspiro, ainda lamentou a atuação de sua equipe, analisou os erros e, em mais uma edição do Arquivo Confidencial, falou um pouco mais de sua vida guerreira. No entanto, João Bosco já havia tomado sua decisão. Na outra partida da rodada, o Democrata venceu o Madureira em Moça Bonita por dois a zero. Fique com a ficha técnica.


Ficha Técnica

Villa Nova 0 x 0 Juventus - domingo- 22 de julho- quarta rodada

Local: Estádio Municipal Castor Cifuentes, Nova Lima-MG Árbitro: João Batista Arruda-RJ


Renda: R$ 4280 Público: 761 pagantes Cartões Amarelos: Paulo César (Villa Nova) ; Édson Araújo e Johnny (Juventus)

Villa Nova: Glaysson; William César (Édson), Rodrigão, Carciano e Raniery; Éverton Araújo, Émerson (Braitner), Paulo César e Márcio Diogo (Bruno Cardoso); Fabinho e Rômulo Técnico: Pirulito


Juventus: Marcelo; Valdir, Levi, Renato e João Paulo; Almir, Márcio Senna, Édson Araújo (William) e Élder (Júnior); Johnny (Fabinho) e Elias Técnico: Márcio Bitencourt.


Nota de esclarecimento: A Aurilândia transmitiu todo o pesadelo graças ao esforçado Cazuza, o funcionário da Telemar comparado anteriormente ao seu Madruga neste blógui e que, após resolver um novo problema que ameaçava a transmissão, aproveitou nossa felicidade pueril para pedir uma camisa do Villa Nova. No entanto, para conferir o toque dramático ao relato, logo na abertura da transmissão, Jota Moreira e Aguiar passaram a murmurar em meus ouvidos até que se silenciaram por completo em meio aos ruídos da torcida já enfurecida. Isso mesmo...Os problemas de retorno persistiram, me obrigando a lutar para me manter na transmissão. Não faltaram situações cômicas e constrangedoras. Quem sabe em um futuro próximo perca o pudor e conte em detalhes o que se passou. Por enquanto, só informo que, após infinitas peripécias ao longo da partida, fiquei devendo a bagatela de R$ 1,20 à senhora do bar na esquina do Alçapão do Bonfim. Prometo pagar. É sério. Não foi só o Villa que ficou em dívida.

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