sábado, 18 de agosto de 2007

A batalha de Pretty Woman


Quando a noite chegar, a derradeira rodada já terá partido (de ônibus evidentemente), levando consigo as equipes que avançarão com seus devaneios de série B e liquidando aquelas que encontrarão no restante do calendário a maior razão para seu sofrer. Nada mais cruel e impiedoso. Aliás, já adianto que o Villa nunca viu na mirabolante Taça Minas “tapa buraco” Gerais, da qual inclusive é o atual campeão, uma boa opção para seguir sua vidinha ao longo do segundo semestre. O Villa é aventureiro, quer desafiar seus obstáculos, contrariar seus limites, acumular dívidas, desbravar o Brasil; por isso, embalado pelos fortes ventos de Bangu, imediatamente se lançou ao ataque com a intensidade de um feroz leão, em busca de uma das vagas do grupo 14 da Classe C tupiniquim. Com autoridade e uma certa ansiedade, ocupou o território inimigo, desejando castigar o mais rápido possível as redes de Bruno Garcia. O domínio parecia inabalável, as testemunhas anfitriãs no estádio Julia Roberts em Pretty Woman já manifestavam o precoce pessimismo dos medíocres profissionais. No entanto, um erro fatal evidenciou o eterno caráter traiçoeiro do futebol e rapidamente deu novo semblante à partida. O então inofensivo Madureira deu o bote em seu campo de retaguarda, capturou o passe adversário e avançou em contragolpe pela direita. A defesa completamente escancarada acompanhou Vivinho que apreciou a liberdade oferecida e invadiu a área vip villa-novense; na sequência o atacante foi atingido pelo volante André e caiu na terra prometida. Esposas, namoradas e sogras vibraram nas arquibancadas; o árbitro capixaba Elcimar Ramos marcou a penalidade máxima com um contido prazer no olhar. O zero a zero diria adeus.

Minuto 6: A descrição da maldição: Vivinho ignora o milagreiro Glaysson e dispara forte e rasante no rodapé direito. Gol do Madureira, o primeiro tento (haha) da já eliminada equipe suburbana na Série C. Nos minutos seguintes, o Villa entraria em pane e por pouco não sofreria novamente a dor do gol. A derrota significaria a eliminação, o empate transformaria todo villa-novense em fervoroso torcedor do Democrata na outra partida da rodada diante do Juventus; apenas a vitória daria a certeza da classificação ao final da partida. O cenário era recheado de desafios, o prazo era implacável. A Aurilândia transmitiu todo esse dramalhão mexicano-villa-novense que você acompanha a seguir.

Sim, a Aurilândia estava no ar levando angústia e esperança ao coração villa-novense. Tudo graças ao novo personagem deste blógui, o Armando, experiente técnico com passagens pela Itatiaia e Inconfidência, que nos acompanhou nessa empreitada decisiva, garantindo a transmissão integral da partida, contorcendo fios e se mantendo invicto no mundo das jornadas esportivas. Armando, uma espécie de Forrest Gump radiofônico, é uma figura sensacional, apesar de telespectador contumaz do Globo Rural.

A matéria sobre os caramujos gigantes africanos que estão atacando o Brasil não só me acordara naquela manhã como ainda me intrigava em meio ao forte combate no gramado de Pretty Woman. O seu Oscar Pereira, de Dourados (MS), mandou fotos do caramujo que está atacando suas árvores e sua horta. A atração global, sempre generosa, informou que se trata do temido caramujo gigante africano já citado por aqui, trazido para o Brasil na década de 80. Atenção seu Oscar, caso não tenha visto a edição desse domingo, aqui estão as recomendações para vencer essa praga: Para fazer o controle é preciso atraí-los durante a noite usando plantas das quais eles gostam, como hortaliças. De manhã, é só pegá-los e queimá-los. Mas cuidado, use luvas descartáveis ou sacos plásticos para proteger as mãos. O caracol africano se contamina com vermes prejudiciais ao ser humano. Se a infestação for grande, é melhor recorrer à autoridade sanitária da sua região.

O perigo de fato é iminente: esse caramujo é ousado e ataca com um estilo que mescla os melhores momentos de Didier Drogba e Roger Milla. Sempre envolvente e insinuante, ele gosta de viver em restos de entulhos, tijolos e locais úmidos com lixos orgânicos. Como o Seu Oscar já deve saber (bom...espero que saiba, senão que descanse em paz), o perigo são os parasitas que o caramujo africano hospeda; a contaminação pode se dar tanto com o contato da pele quanto pela ingestão das larvas; os sintomas das doenças causadas podem ser dores de cabeça, hemorragias, perfurações intestinais, danos ao sistema nervoso central, cegueira, enfim...acredita que a pessoa pode até morrer? É verdade...e pensar que esse bicho veio para cá no fim dos anos 80, numa tentativa frustrada de substituir o escargot no cardápio da elite afetada...As dondocas não apreciaram o sabor e como vingança o sindicato dos caramujos africanos decidiu instaurar a praga e...o Villa lentamente retomou a tranqüilidade e a confiança perdidas com o gol sofrido. O acuado Madureira se submeteu à veloz troca de passes mineira, cada vez mais agressiva e perigosa.

Minuto 22: Márcio Diogo escapa da marcação, abre espaço e dispara forte na direita da entrada de área. O goleiro Bruno Garcia espalma; o rebote vai para o domínio de Paulo César que, antecipando-se à zaga suburbana, dispara cruzado no rodapé esquerdo de Bruno; ela ainda toca na trave antes de detonar as redes. Êxtase em Pretty Woman. Grite Aguiar, grite na varanda de imprensa. Madureira 1x1 Villa.

Nesse momento, o domínio villa-novense era amplo, geral e irrestrito. O gol não tem hora, pode ser agora, diria o profeta cauteloso. Minuto 28: Raniery avança pela esquerda e levanta no balacobaco; um bate-rebate desenfreado termina com o último toque do humilde zagueiro Carciano que, no intervalo, confessaria que nem tinha certeza que havia sido o autor do gol da reviravolta. Madureira 1x2 Villa.

O jogo tornou-se extremamente aberto e inconsequente. O Villa contava com os avanços do inspirado Márcio Diogo que com belos dribles envolvia a pobre marcação adversária, talvez já preocupada com seu futuro após o final da partida. Apesar do fantasma do desemprego, embora boa parte do elenco já estivesse garantida na equipe do Bangu que disputa a segunda divisão carioca a partir deste mês de agosto, o Madureira buscava se reerguer na partida. O time carioca apostava na força física e nas faltas de longa distância: em uma delas, o meia Michel disparou forte, ela passou assombrando Glaysson, à esquerda de seu gol.

Os céus de Bangu, repletos de pipas domadas por moleques atrevidos, (algumas delas inclusive visitaram o gramado) testemunharam o final do intenso primeiro ato. Madureira 1X2 Villa. Com o resultado, a equipe mineira não só se classificava, como também garantia a antes improvável primeira posição do grupo 14, já que Democrata e Juventus seguiam empatados em zero a zero. Algo excelente para um time que nas primeiras quatro rodadas, colecionava três empates e uma derrota. Jota Moreira, por favor, comande o intervalo com seu estilo eloqüente e sempre equilibrado e racional. Ah....disparates, torpedos, invasões, cartões, palavrões, policiais, sorrisos e lágrimas...tudo isso na segunda etapa. Só faltaram os caramujos...Não perca.
(você está acompanhando o relato de Madureira x Villa, confronto disputado no domingo 5 de agosto, pela última rodada da primeira fase da Série C)

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