sábado, 21 de julho de 2007

Ataque ao Pirulito


Democrata 3x2 Villa Nova. Um time arrasado se dirigiu ao vestiário. O rápido e ineficiente Fabinho ignorou a reportagem. Coitado. Emerson lamentou a derrota, mas demonstrou tranqüilidade graças à boa atuação individual. Carciano, o mais desolado de todos, estampava com suor e lágrimas, sua pungente decepção. Pirulito, ainda ao lado do banco de reservas, já conversava com o repórter da rádio Globo de Valadares, quando sua voz tomou conta do atrevido microfone da Aurilândia. O técnico, aparentando uma tristeza comedida, reafirmava seu amor pelo Villa e destacava que não colocaria o cargo à disposição; sairia apenas se fosse o desejo da diretoria. Na seqüência, ainda analisou o desempenho do time, comentou a fragilidade física do ataque ainda virgem, prometeu alterações, reclamou de um gol anulado e ainda desafiou para um duelo o bandeirinha Jair Albano Felix, com quem discutiu ao longo da partida. Detalhe: Felix é filho do ex-jogador Jair Bala, amigo de longa data do divertido chorão Pirulitovsky.

Na seqüência, devido a um problema de retorno, atropelei involuntariamente o falante Jota Moreira e iniciei a entrevista com o atencioso e extremamente abatido presidente João Bosco. O repórter da Globo Valadares, sempre atento, sorrateiramente se aproximou do local para dar o bote e destilar o seu veneno. Não demorou muito. Bastou perguntar qual era a situação de Pirulito para o moço complementar com um olhar malicioso e potente entonação de rádio AM: Pirulito disse agora há pouco que entrega o cargo.

João Bosco, um tanto atônito, afirmou que conversaria primeiro com o técnico e que seria difícil arranjar um novo comandante em meio à competição. O maldoso repórter, satisfeito com a resposta, se afastou em meio a orgasmos múltiplos. Aproveitando o momento e tomado de verdadeira sede de justiça, prossegui a entrevista e informei ao nobre presidente que Pirulito, pelo menos na bendita Aurilândia, havia dito exatamente o oposto. João Bosco se limitou a dizer que conversaria com ele para saber o que raios tinha de fato dito às rádios. Pirulito, o boa praça, me agradeceria dias depois. Como cidadão brasileiro ciente de meus deveres cívicos, impedi o aumento do número de desempregados das estatísticas oficiais. Presidente Lula, o senhor me deve essa.

Próximo destino: São Paulo, quarta-feira, 18 de julho. 15:00 h- JUVENTUS x VILLA NOVA


Rômulo Mendonça

Vou chorar, desculpe mas eu vou chorar



O título remete a uma conhecida música da dupla Leandro e Leonardo. Sim...isso mesmo. Eu, que desde tempos imemoriais, odeio sem moderação qualquer vertente sertaneja-caipira musical, me inspirei em Leandro e Leandro, para iniciar mais um texto do imberbe, mas já sofrido blógui Villaontheroad. Tenebroso sinal. Notória evidência de desespero e frustração que, apesar do tom melancólico e piegas, você não terá como contestar e recriminar... Basta dar asas à imaginação e acompanhar o relato que virá a seguir...Desculpe, mas você também vai chorar...

Não teve diálogo. A árbitra mineira Cássia Alves ignorou nossas dificuldades e pontualmente deu início à partida. (Maldita Cássia. Essa dona sem misericórdia ainda vai ser comentarista da Rádio Aurilândia e sofrer bastante....ah vaiii...) Democrata e Villa Nova, pela segunda rodada do grupo 14 da Série C, entram em ação. Logo aos três minutos, programação musical, discursos de Jota Moreira na Aurilândia e rápida explosão de palavrões no Mamudão em Governador Valadares. O zagueiro Rodrigão, com uma cobrança de falta potente e certeira, atinge o ângulo superior esquerdo da meta inimiga, marcando o primeiro gol do Villa Nova. O goleiro Alencar, figura nada confiável, chegou a tocar sutilmente na gorducha, mas não o suficiente para impedir o rugido do Leão. Aguiar, amuado na cabine A-6, saca o celular e dispara a informação rumo aos estúdios. Jota “escusas” Moreira interrompe alguma balada romântica qualquer, talvez de seu companheiro Jota Quest, e anuncia com entusiasmo a boa nova. Na seqüência, exibindo notória veia política, despeja promessas de rápida solução dos problemas e conseqüente transmissão do prélio. Esse Jota Moreira...

A partida ganha em intensidade e tensão. A platéia esbraveja, o locutor do estádio implora: Atenção torcedor. Por gentileza, não atire objetos ao gramado. O Democrata busca o ataque e o Villa se retrai assustado. Cenário perfeito para a crônica do gol de empate anunciado. Primeiro ato, minuto 22. A Pantera avança pela direita, Thiago Silva, habilidoso camisa dez, articula a jogada. Invasão de área. Cruzamento na boca do gol e finalização de Ademilson. Maldição no Mamudão. O Villa entra em pane. Jota Moreira, por favor, interrompa Felipe Dylon e anuncie a desgraça com voz embargada. Obrigado.

Segue a primeira etapa: Jota Quest toca para Zeca Pagodinho, domina Glaysson, Red Hot Chili Peppers e Grupo Revelação (?) aguardam o lançamento, recupera o Democrata, Ana Carolina encara a marcação, Armandinho (?) acelera, cartão amarelo para Carciano, Shakira rebola com categoria, Rio Negro e Solimões avançam com Roberta Miranda, gol anulado do Villa...Apesar das sentidas ausências de Leandro (in memorian) e Leonardo, essa eclética e criteriosa programação musical da rádio Aurilândia embala minhas emoções à margem do gramado, posicionado sempre de pé, distante de Pirulito e seus ansiosos bancários.

O feitiço do tempo gradualmente torna a temperatura mais amena e agradável. O Black Eyed Peas canta freneticamente, tentando seduzir o ouvinte insatisfeito, enquanto o Democrata acelera pela esquerda. Glaysson, pseudo-milagreiro, é driblado pelo Jean Macapá. O centroavante, objeto de desejo de João Bosco, aplica um belo giro e decreta o segundo gol da Pantera aos 39 minutos da primeira etapa. A loira vocalista solta um respeitável agudo. Ela parece dizer: Jooootaaaaa! O Aguiar já ligou...faça o bom jornalismo de sempre e informe com o pesar que a notícia merece!!!yeahhhhhhh...

O primeiro tempo termina ao som de um simpático pot-pourri do rei Roberto Carlos...Eu te darei o céu meu bem e o meu amor tambééémmmm, a torcida comemora, eu sou terrívellll, vou lhe dizerrrrr, Pirulito reclama da arbitragem, estou amando loucamente a namoradinha de um amigo meeeuuuuu,os jogadores caminham em direção aos vestiários,Splish!!! Splashhhh!!!,Parei na contramão!!! Desolador intervalo de partida.

A segunda etapa começa e o Villa adota uma postura mais ousada e corajosa. O Leão ocupa o território adversário, mas não consegue finalizar com eficiência. Os jogadores correm, se esforçam, ignoram o macarrão da noite anterior. Muita força física e intensidade. Ao lado do campo, ouço um sucesso de Daniel com meu ar blasé quando o improvável acontece. Não, o Pirulito não invadiu o campo para elogiar a arbitragem. Não foi isso. Foi a nossa jornada que teve início aos vinte e poucos minutos...espero que acreditem...ora...por que mentiria?

Ahhhh....Essa é a Aurilândia que eu não conheço. Vamo que vamo. O Democrata ameaça apenas em contragolpes. O Villa permanece insistindo; Emerson descola um atalho pelo miolo, aplica dois chapéus consecutivos e é travado no instante do disparo. Paulo César domina na entrada de área e dispara cruzado, à esquerda do gol. Não tem problema. Minuto 39. Um lançamento do Leme ao Pontal parte da direita. O zagueiro Carciano, indesejável visita à área inimiga, amortece com requinte a bola no peito e dispara forte no rodapé direito de Alencar. Um golaço que não merece a clandestinidade da Série C.
A rádio Aurilândia incrivelmente narra o gol (obrigado John Coffey). Os villa-novenses se emocionam com o esforço recompensado, comemoram com fúria, mas assistem passivos ao ataque seguinte do Democrata, impulsionado por sua irada torcida. Anderson Toto evolui pela direita e toca para Rafael que, na grande área, finaliza com calma na saída de Glaysson “com medo do escuro” Coffey. Traiçoeiro futebol. Êxtase do Demo. Uma das mais dolorosas maneiras de se perder uma partida. Os quatros minutos de acréscimos são inúteis. O impacto do gol foi avassalador.
O Democrata vence com alta carga de dramaticidade nos instantes finais e alcança a liderança isolada com 4 pontos. Os jogadores do Villa, ao som dos fogos de artifício, literalmente desabam no gramado na companhia da lanterna do grupo 14, com seu humilde pontinho. Na outra partida da rodada, Madureira e Juventus empataram sem gols (ambos estão com dois pontos). A viagem de volta seria longa e repleta de lamentações...Ah...melhor encerrar por aqui. Não disse que você iria chorar? Fique com a ficha técnica.


Ficha Técnica

Democrata-GV (MG) 3 x 2 Villa Nova( MG)

Data: Sábado, 14/07/2007, 16:00 h

Local: Mamudão, em Governador Valadares

Público pagante: 1.996 Renda: R$ 10.720

Arbitragem: Cássia Alves Dias (MG) Auxiliares: Rodrigo Otávio Baeta (MG) e Jair Albano Félix (MG) Cartões Amarelos: Ivonaldo e Alencar (Democrata); Carciano, Jackson e Raniery (Villa)

Gols: Rodrigão (V), Ademilson (D), Jean Macapá (D), Carciano (V) e Rafael Souza (D)

Democrata: Alencar; Miguel, Riso Surubim e Fábio Paulista; Ivonaldo, Húdson, Henrique, Thiago Silva (Toto) e Jean Batista; Jean Macapá (Biro Gomes) e Ademílson (Rafael Souza) Técnico: José Maria Pena

Villa Nova: Glaysson; Édson (William), Rodrigão, Carciano e Raniery; André (Clodoaldo), Jackson (Bruno Cardoso), Paulo César e Emerson; Márcio Diogo e Fabinho. Técnico: Pirulito
Rômulo Mendonça

terça-feira, 17 de julho de 2007

À espera de um milagre- parte 2



O blógui informa: O goleiro villa-novense Glaysson é a versão tupiniquim do ator Michael Clarke Duncan, eternizado nas telas do cinema, com a interpretação do sobrenatural John Coffey em “À espera de um milagre”, estrelado por Tom Hanks. A informação foi constatada na sexta à noite, com a exibição da dramática e bela película no aparelho televisor do quarto 234 do Century Park Hotel, localizado em Ipatinga, cidade na região do Vale do Aço das Minas Gerais. Glaysson não foi informado. Duncan, muito menos.

O goleiro, mesmo que não tenha assistido ao filme, provavelmente ficaria com o ego massageado ao ser comparado a um milagreiro. No entanto, mesmo que a semelhança ultrapasse realmente o aspecto físico, é preciso destacar: os profissionais da arte do milagre, sempre preocupados com a manutenção do glamour de sua condição singular, não costumam acionar seus poderes em situações triviais, mas apenas em circunstâncias de real e iminente perigo. Por isso, o sempre sábio técnico Pirulito, conhecedor dos segredos e mistérios da vida, prefere uma partida tranqüila, um confronto ameno, com um time eficiente e seguro na marcação, atacando com equilíbrio e não propiciando indesejáveis momentos de sufoco. Pirulito não é adepto do “futebol-milagre”, ele prefere Glaysson e não uma figura exótica e yankee dos anos 30 defendendo sua meta: “nada de John Coffey por aqui!” diria ele, com seu estilo simplório e temperamental.

Além disso, talvez o goleiro do Leão não passe de um sósia menos badalado. É melhor desconfiar. Foi com essa pragmática “filosofia” que a delegação villa-novense desembarcou por volta das seis da noite da sexta-feira em Ipatinga, onde ficaria até o final da manhã seguinte, quando retornaria ao ônibus que a levaria rumo à cidade de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, mais especificamente ao estádio Mammoud Abbas, palco do embate diante do Democrata Pantera, pela segunda rodada do grupo 14 da Série C.

A partida era fundamental na seqüência da competição. Os jogadores chegaram demonstrando muita garra, muita fome de bola, de vitória e de macarrão, frango, carne de porco, feijão, mais macarrão, sem esquecer do doce de leite ao final. O jantar de sexta, testemunhado por incrédulas funcionárias, foi devastador. Aliás, Glaysson pode não ser o John Coffey, mas se continuar comendo daquele jeito, vai ficar mais parecido com o Michael Clarke Duncan do que o próprio Michael Clarke Duncan (comentário em off: Duncan ostenta mais de 130 quilos). Após a singela refeição, cada atleta se dirigiu ao seu aposento para acompanhar o restante da cerimônia de abertura do Pandemônio do Rio de Janeiro e recitar um pouco de Camões e Fernando Pessoa enquanto Morfeu não chegasse. O vigia Pirulitovsky, sempre antenado e caminhando sorrateiramente pelo hotel, localizado em um amplo espaço semelhante a um quartel do exército, aparentemente não teve trabalho. A noite avançou serena no Vale do Aço.

Na manhã seguinte, após um apetitoso café da manhã, avançamos pelas estradas do leste mineiro, sob um céu azul e um sol impiedoso, passando pelos progressistas municípios de Naque e Periquito, até alcançar finalmente a escaldante Governador Valadares, a cidade repleta de semáforos, carente de placas e que desconhece a estação denominada inverno. Logo de início, encontramos um autêntico desafio: encontrar o estádio Mamudão. Pedíamos informações aos pedestres valadarenses que ainda não partiram para Miami, Texas e Baltimore. Todos eles nos ofereciam referências vagas e imprecisas. Chegamos a cogitar uma conspiração arquitetada pela Vênus Platinada: na realidade, o Mamudão seria uma obra de ficção construída pelos computadores globais, nos iludindo desde nossa mais tenra infância. Ahhhhh...que isso...chega de besteira!!! Olha lá o Mamudão! É ele! É ele! É ele! É ele? Não...é um cemitério....ahhhh....

Bom...depois desse pequeno equívoco, finalmente chegamos ao estádio e, após alguns degraus superados em poucos minutos, já estávamos na apertada cabine A-6 (ainda sem energia elétrica) do então deserto e real Mammoud Abbas que, pelo menos em um dos seus muros laterais, realmente lembra um cemitério. Sem hesitações, vamos logo aos detalhes e à utilidade pública: inicialmente, senhores e rapazes, atentem-se para o fato de que o banheiro masculino do Mamudão não possui papel higiênico e nem lavatório. Sendo assim, após utilizar o recinto, olhe para um lado, olhe para o outro e, com um movimento ágil e decidido, invada o similar feminino. Lá encontrará um lavatório! Não é o máximo? Agora, se necessitar de papel higiênico, é melhor rezar...

O Mamudão também se encontra mutilado. Devido à alegada falta de segurança, as arquibancadas metálicas, que compreendem mais da metade das dependências do estádio, foram interditadas por ordem judicial. Uma grande bandeira de uma torcida “organizada” da Pantera ocupou o grande vazio imposto pelo Ministério Público. O torcedor tinha como opções apenas parcas arquibancadas atrás de um dos gols e também as próximas às cabines de imprensa e cadeiras sociais, limitando a capacidade do estádio a meros 3.000 espectadores. Um cenário favorável que talvez reduziria a intensidade da pressão ao Villa Nova, mas que não faria a menor diferença para nós, que, mesmo com todos os equipamentos corretamente instalados, tanto na cabine quanto ao lado do gramado, ouvíamos o retorno, mas não conseguíamos novamente nos comunicar com a bendita rádio Aurilândia.


O drama se repetia enquanto a hora do jogo se aproximava sem piedade. Os repórteres da rádio Globo de Valadares já disparavam seus clichês com tranqüilidade. Os jogadores já se aqueciam no gramado, os torcedores lentamente ocupavam os espaços permitidos. Prosseguíamos em silêncio. Culpa da Telemar? Culpa da própria rádio? Culpa da Al-Qaeda? Não tínhamos as respostas, éramos pobres vítimas de uma força oculta e maligna. Apenas sabíamos que diante de tantos obstáculos, talvez estivéssemos realmente “À ESPERA DE UM MILAGRE”, o milagre da transmissão radiofônica...Johnnn Coffeeeeyyy!!!!!

(continua) Rômulo Mendonça


sexta-feira, 13 de julho de 2007

Quem tem medo de Jota Moreira?



Com a cabeça erguida e olhar decidido, deseje boa tarde ao porteiro de plantão. Não se esqueça do sorriso nos lábios e o orgulho no coração ao apresentar sua carteira da “fabulosa” Associação Mineira dos Cronistas Esportivos (caso não esteja com a carteira de 2007, vale também o recibo de pagamento acompanhado de sua carteira de identidade). Cumprido o ritual, ganhe as dependências do estádio, avançando pelos estreitos corredores até alcançar o primeiro lance de degraus metálicos.

Não há o que temer. Siga confiante, mas acrescente um pouco de prudência ao seu caminhar. Encare a situação e seus fatores positivos: imagino que você esteja sóbrio (a), afinal veio para trabalhar em nome da imprensa, uma instituição séria; são poucos degraus e aparentemente são resistentes; exercícios físicos quase sempre são benéficos, fortalecem as panturrilhas e elevam a alma. Além disso, acima de tudo, sempre tenha em mente: poucos metros a (o) separam do paraíso. Superada a simpática escada helicoidal (ou caracol), sinta-se à vontade. O senhor ou senhora acaba de chegar ao setor de imprensa do estádio Castor Cifuentes, o Alçapão do Bonfim. Controle sua emoção e tenha uma excelente jornada esportiva!

O complexo compreende quatro cabines de transmissão; deve ter banheiro também (não prestei muita atenção); em cada uma de suas extremidades, estão amplos espaços que nos remetem às varandas dos sítios dos sonhos de nossas infâncias. São nesses espaços que emissoras de televisão posicionam suas câmeras e também se acotovelam as rádios mais humildes em dias de visitantes mais badalados. Mas, evidentemente, não precisamos nos preocupar com isso. Estamos a serviço da Aurilândia, tradicional rádio da casa, e o visitante da tarde é o Madureira...ora bolas...Nada, eu disse nada, vai nos tirar da cabine 3, a não ser nossa disposição em caminhar um pouco enquanto a bola não rola para o empolgante segundo tempo.

Bastaram poucos passos para encontrar, também saboreando sanduíches de presunto e queijo na cabine ao lado, Wagner Augusto, assessor de imprensa e historiador do Villa, e João Bosco Pessoa, presidente do dito cujo. João exibia um semblante não muito satisfeito. O culpado não era o sanduíche e sim o inoperante ataque do Leão do Bonfim. Entre uma mordida e outra, ele elogiava o seguro zagueiro Carciano e dava as receitas para a reação: “tem que partir pra cima, encarar os zagueiros, trombar, nossa...como tem mulher gata na torcida do Villa”, afirmou o nobre presidente.


João Bosco ainda confessou um desejo frustrado. Ao ser informado que o atacante Jean Macapá, autêntico andarilho do futebol mineiro, havia marcado o gol do Democrata de Governador Valadares na outra partida do grupo diante do Juventus na Rua Javari (que terminaria empatada em um a um), o presidente com nome de compositor, lamentou não tê-lo contratado para fortalecer o ataque do Leão. Pobre João, caso soubesse que, na verdade, o autor do gol foi o lateral-esquerdo Jean e não o atacante homônimo, não teria revelado o insólito desejo por Macapá...

Melhor voltar à cabine 3, voltar à transmissão clandestina. No gramado, equipes já em ação e no estúdio da Aurilândia o âncora Jota Moreira que, se no primeiro tempo, afirmava com aparente convicção que faríamos toda a segunda etapa, agora pedia “escusas”, isso mesmo, “escusas” aos ouvintes, enquanto, com a classe dos antigos, vociferava contra a Telemar. Já o Villa demonstrava uma certa evolução em campo. O Madureira retomara o complexo de vira-latas fora de casa e não ultrapassava a metade do gramado. A partida se desenvolvia intensamente no campo de ataque do Leão quando um milagre aconteceu.

A nossa querida Telemar, honrando o slogan “Viver sem fronteiras”, solucionou a questão do maldito poste (foto acima). O senhor Jota Moreira, em um misto de empolgação e alívio, acionou Aguiar que, com cerca de 15 minutos do segundo ato, deu início à jornada. Os equipamentos estavam instalados apenas na cabine, portanto, o repórter também teve que se instalar por lá, distante do gramado, longe do balacobaco e do ziriguidum do partida. O Villa mantinha a pressão, buscava alternativas, mas esbarrava em suas próprias limitações. Inofensivos disparates paravam nos braços do goleiro Bruno, finalizações diziam adeus pela linha final e, na mais clara oportunidade, o meio-campista Paulo César protagonizou uma furada estratosférica já na grande área inimiga.

O amargo técnico Pirulito colocava bancários em campo, desejando mais agressividade e velocidade à equipe. Willian César até demonstrava potencial com avanços pela direita; Emerson se deslocava bastante e era cobrador de faltas traiçoeiras. No entanto, o Madureira era feroz na marcação, evidenciando um fato já confirmado anteriormente: não existem latifúndios na Série C. A figura do arbitro Leonardo Ferreira Lima, um estudante paulista de 23 anos, também foi gentil com o time suburbano, ao ignorar a lentidão carioca em fazer as reposições e cobrar infrações. O zero a zero foi inevitável.

Encerrada a partida, Pirulito, também conhecido como Francisco Carlos Ferreira da Silva, atravessou todo o gramado e, antes de alcançar o vestiário, foi homenageado por um grupo de torcedores finos, todos trajando elegantes smokings e black-ties. Os torcedores gritavam algo e pareciam oferecer doses do sofisticado whisky que consumiam há horas. Pirulito chegou a ameaçar pular o alambrado e confraternizar com seus admiradores. No entanto, acabou desistindo e partindo rumo ao vestiário das lamentações.

Felizmente desistiu. Estávamos sem máquinas fotográficas e seria lamentável não registrar o encontro. Aliás, esperamos superar nossas carências tecnológicas (talvez estejamos realmente com alma de Série C) e registrar futuramente momentos de nossas aventuras pela Terceirona. Afinal de contas, a loirinha da Federação, os velhinhos e as moças da arquibancada, as cabines, as escadas, as mesas, as cadeiras, o belo espetáculo no gramado, a bandeirinha com potencial para ser uma nova Ana Paula (e não falo exatamente de futebol), o Pirulito, o presidente que desejou Macapá, enfim, todos merecem registro.

Ah... estava me esquecendo do Jota Moreira. Após o final da partida, não percebendo que estávamos na cabine, ele pediu uma entrevista com o Pirulito, seu amigo de longa data e travessuras. Aguiar, sempre calmo, disse que devido às dificuldades técnicas da tarde, não seria possível. Jota, dono de grande currículo em rádios, segundo o mesmo, insistiu e chegou a pedir que trouxéssemos o técnico à cabine. Aguiar, sempre compreensivo, ligou para o assessor Wagner que lhe informou que Pirulito se encontrava muito irritado, talvez por não ter pulado o alambrado e extravasado toda sua felicidade. Jota, após tentar novamente nos convencer com sua voz poderosa, finalmente se conteve, para nossa felicidade. Já às escuras encerramos a singular jornada direta do Alçapão do Bonfim. Pirulito ficou para a próxima. Fique com a ficha técnica da partida e nos deseje mais sorte na seqüência de nossas peripécias. Obrigado.

Ficha Técnica


1ª Rodada - 07/07/2007 - sábado - 16h Villa Nova 0×0 Madureira-RJ

Local - Estádio Municipal Castor Cifuentes (Nova Lima-MG)

Público - 965 Renda - R$5.433,00 (US$2.700)

Árbitro - Leonardo Ferreira Lima (SP)- Assistentes: Rodrigo Otávio Baeta (MG) e Angela Paula da Cruz Régis Ribeiro (MG) Cartão Amarelo - André Paulino (M) Cartão Vermelho - Não houve

Villa Nova - Glaysson; Édson (William César) (27´ do 2º), Rodrigão, Carciano e Raniery; André (Emerson) (6´ do 2º), Jackson, Paulo César e Márcio Serrão (Bruno Cardoso) (intervalo); Fabinho e Márcio Diogo Técnico - Francisco Carlos Ferreira da Silva - Pirulito

Madureira - Bruno Garcia; Schneider, Paulo César, Silvio e Amarildo (Glauco) (44´ do 2º); André Paulino, Guido, Raone (Celso) (30´ do 2º) e Muriqui; Douglas (Abel) (20´ do 2º) e Marcelo Pelé Técnico - Gabriel Vieira


Próximo destino: Governador Valadares, sábado, 14 de julho, 16:00 h- DEMOCRATA x VILLA NOVA.
Rômulo Mendonça

terça-feira, 10 de julho de 2007

Abrem-se as cortinas e não começa o espetáculo


O sorriso de aeromoça da loirinha de pele clara e olhos verdes da Federação deu um toque mais singelo àquela tarde ensolarada de sábado. Por efêmeros instantes, foi como se estivéssemos em Copenhagen, apreciando o verão europeu em uma confortável cabine de transmissão, à espera do início de mais uma amena partida do Campeonato Dinamarquês. No entanto, após entregar uma folha com informações triviais, o tal sorriso logo se desfez e sua dona partiu rumo às tortuosas escadas com seus degraus traiçoeiros que a levariam para longe de nós. Minha imaginação, que felizmente não depende de controladores de vôo, atravessou novamente o oceano e se chocou com a realidade que até meus olhos míopes miravam sem pestanejar. Fios por todos os lados, gambiarras mirabolantes dignas de MacGyver já atravessavam o teto da cabine número três, especialmente decorada com cocôs de passarinho e uma cadeira e uma mesa menos conservadas que minha avó (que aliás, já faleceu). Tudo isso formava um emblemático cartão postal de boas vindas à Série C do futebol pentacampeão do mundo.

Atenção: sai definitivamente Copenhagen, entra em ação Nova Lima, a terra do ouro, cidade na região metropolitana de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais. A cidade do Villa Nova, o Leão do Bonfim, clube com 99 anos de história e que dentro de instantes enfrentaria o suburbano Madureira do Rio de Janeiro em partida válida pela primeira rodada do Grupo 14. O cenário: o sufocante Alçapão do Bonfim, um estádio que, você já deve imaginar ou saber, não prima exatamente pela excelência, a não ser, é claro, pela sua fácil localização: ao entrar em Nova Lima, basta seguir direto, avançando por suas ruas estreitas com um quê de cidade histórica...bom, foi isso que todos os pedestres nos responderam sem hesitação.

O jogo começaria dentro de pouco mais de uma hora, mas não havia motivos para empolgação. Apesar da boa qualidade dos equipamentos, não conseguíamos nos comunicar com a rádio. Repetíamos frases que depois de proferidas tomavam rumo desconhecido. “Alô rádio Aurilândia...alô rádio Aurilândia...alô rádio Aurilândiaaaaaa...” Malditas forças ocultas pareciam conspirar contra nossa empreitada, sem nenhuma suspeita em relação à rádio concorrente, formada por figuras simpáticas que irritantemente levavam ao ar com tranqüilidade a sua jornada esportiva. Será que estávamos na cabine certa?

Para agravar nosso drama, o funcionário da Telemar-Oi, responsável pelo perfeito funcionamento das linhas, tinha paradeiro desconhecido. O rapaz, provavelmente freqüentador dos bares ao redor do estádio e uma espécie de Seu Madruga tupiniquim, só foi surgir bons minutos depois para, após telefonemas e novas investidas MacGyverianas, decretar que o problema estava na linha de transmissão, talvez em algum poste próximo à rádio. O jogo nem havia começado e já sentíamos o que é a Série C: sofrimento antes, durante e depois da partida.

Aguiar, um otimista inveterado, acreditava que faríamos os derradeiros quinze minutos da partida. Nesse momento, velhinhos uniformizados já se acomodavam nas arquibancadas, a charanga já tocava e os jogadores com humildade e determinação já se desvencilhavam dos buracos do “gramado” em busca do resultado positivo.

Aliás, um primeiro tempo dominado pelo Madureira, que perdeu belas oportunidades criadas por Marcelo Pelé e companhia bem limitada. O ataque carioca era insinuante e envolvente, trocava passes rápidos e disparava com muito perigo em busca do gol. Aos 24 minutos, Muriqui, o camisa 10 do subúrbio, tocou para Raone que, na entrada de área, mandou um torpedo na trave. A angústia em Nova Lima ganhou força após novas oportunidades perdidas pelo Pelé e seu companheiro Douglas, que, diga-se de passagem, não lembrava Pepe nem Coutinho. A atuação do Villa era preocupante, o time não conseguia se impor. O goleiro Glayyyssonnnn falhava nas reposições, o meio-campo era lento e o ataque buscava se movimentar, principalmente com Márcio Diogo, mas era frágil demais. Os torcedores já cuspiam marimbondos.

Enquanto isso, simulávamos trechos de narração e reportagem na esperança de sermos ouvidos quando o árbitro de verde limão encerrou o primeiro tempo. Como prêmio pela nossa “transmissão”, que incluiu inovadoras formas de expressão, recebemos sanduíches de presunto e queijo acompanhados de refrigerantes...Nada mais merecido. Fizemos a melhor transmissão de todos os tempos, pena que ninguém mais ouviu...(continua)

Rômulo Mendonça