quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Caspita!


O Baroni é uma figura simpática, um vovô carinhoso que ama a adrenalina cotidiana de seu trabalho. Aposentado desde 1999, ele passou certo tempo em casa, foi rapidamente rotulado como “chato” por seus familiares e decidiu voltar ao batente. Baroni voltou a sorrir; agora trabalha na Telefônica e descasca pepinos pelas ruas e postes paulistanos. Ahhh...lamento não ter fotografado o Baroni. O destino o levou à Javari naquela tarde vazia; passei ao seu lado nas escadas enlameadas, quando, ainda no intervalo de partida, avançava em sentido contrário para comprar alguma guloseima com a velhinha de acentuado sotaque italiano que chamava a todos de “lindo” ou “linda”. Depois descobri a razão: um simples chocolate custava dois reais; realmente essa velhinha tem que ser simpática para sensibilizar algum otário.


Bom...enquanto me deliciava com o chocolate, retornei à varanda de imprensa e logo avistei Baroni em ação, contorcendo um oceano de fios. Os jogadores já estavam de volta ao gramado. Os carcamanos entoavam seus cantos patéticos e já se posicionavam para atormentar o milagreiro Glaysson durante todo o restante do confronto. Alô Rádio Aurilândiaaaa!!! Piedade. Alô Rádio Aurilândiaaa! Misericórdia. Começa a segunda etapa. Minuto 5. O Villa avança, abre espaços, evolui no campo de ataque, rompe o catenaccio juventino e logo conquista território pela meia-esquerda. A ousada força aérea do Leão se apresenta na área inimiga: Raniery faz o lançamento, a gorducha rasga os céus da Mooca, Rômulo ajeita de cabeça, ela viaja e encontra o zagueiro Rodrigão, que já na pequena área, a golpeia com fúria, cabeceando e castigando as redes de Marcelo. Caspita! Porco dio! Dio cane! Os velhinhos, as adolescentes histéricas das sociais, os carcamanos das arquibancadas, todos vociferam e lamentam a desgraça. Juventus 1x0 Villa, informa o singelo placar eletrônico da Javari...podem acreditar, ele existe.


O Leão sente o drama com sabor de calabresa e avança em busca do golpe fatal. Baroni também joga junto, aposta em suas peripécias, mantém o semblante decidido, sempre na luta entre o bem e o mal. A vida dele está em jogo, nunca vai desistir, ele não é disso...ei Aguiar! Dispare seu bordão “Alô Aurilândia”!!...Jota Moreira! Pare de falar mal da vida alheia e ouça! Sim...Lágrimas e sorrisos na conexão São Paulo-Nova Lima. A transmissão invade as ondas do rádio. Ainda chego a descrever o gol de Rodrigão e empurrar o Villa ao ataque com palavras histriônicas. Aguiar, visivelmente emocionado, narra alguma jogada e lê um reclame, quando o retorno diz adeus e a transmissão volta para Jota Moreira e os flashes informativos até o final do confronto. Caspita! Porco dio! Dio cane!


Foram cerca de dois mágicos minutos de transmissão. Foi como se a Rua Javari tivesse sido palco de uma das fulminantes lutas de Tyson nos anos 80. Mas não...Juventus e Villa Nova continuavam se enfrentando e protagonizando lances quixotescos. O Leão domina a posse de bola, toma conta da partida. Exibe autoridade e ameaça o gol juventino; em mais uma jogada aérea, por um triz não marca pela segunda vez. No entanto, o ímpeto villa-novense perdeu fôlego após essa investida furiosa. O Juventus, comandado pelo pobre Márcio Bittencourt, que um dia comandou como pôde o time da MSI, decidiu se lançar ao ataque e desafiar seus contundentes limites técnicos. O moleque travesso, impulsionado por suas testemunhas da Mooca, ganha o campo de ataque; a dupla country Johnny e Willian encara a defesa villa-novense. Minuto 25. Um disparo cruzado para o gol. Glaysson comete o pecado e oferece o rebote desejado. O rápido atacante Elias, que entrara na vaga do já folclórico Edson Pelé, finaliza sem piedade. Empate. Maldição na Javari. Juventus 1x1 Villa.

O grogue Villa não compreende o que se passa. Baroni muito menos. O mistério da queda da transmissão deu um toque enigmático à varanda de imprensa da Javari. Baroni deseja a resposta; questiona os equipamentos, dispara telefonemas, mas nada encontra. Baroni, melhor desistir. Enquanto isso, Rachel Mattos, a dona da rádio, vocifera contra todas as companhias telefônicas registradas no território nacional. Bom...mas isso também parece ser tradicional.

Distante das turbulentas polêmicas dos bastidores radiofônicos, o crepúsculo de jogo se aproxima em meio aos gritos da gente juventina. O Villa acuado e sorumbático resiste à pressão grená e só não sofre o gol da reviravolta graças à gentileza dos atacantes adversários. Fim de partida. Nada de vencedores e derrotados. A quarta-feira 18 não permite comemorações. Mas o comandante Pirulito, se assim desejar, pode chorar. Nada mais apropriado e aguardado. Na outra partida do grupo, Democrata e Madureira empataram em zero a zero. Fique com a ficha técnica.

3ª Rodada – 18/07/2007 – quarta-feira Juventus-SP 1x1 Villa Nova

Gols: Rodrigão aos 5’/2T (Villa Nova). Elias aos 25’/2T (Juventus)

Local: Estádio Conde Rodolfo Crespi – Rua Javari (São Paulo-SP)

Público: 196 renda: R$3.100,00

Árbitro: Róbson Soares (RJ) Cartões Amarelos: Fabinho (Juventus); Fabinho e Raniery (Villa Nova-MG)

Juventus: Marcelo; Ivan (Fabinho), Renato, Valdir e Levi; Almir, Joãozinho, Júnior e Elder (Willian) e Jonny; Édson Araújo (Elias) e João Paulo. Técnico: Márcio Bitencourt

Villa Nova-MG: Glaysson; Willian César, Rodrigão, Carciano e Raniery; Ewerton Araújo (André), Paulo César, Émerson e Márcio Diogo; Fabinho (Breitner) e Rômulo (Bruno Cardoso). Técnico: Pirulito

Próximo destino: Nova Lima- VILLA NOVA X JUVENTUS 22 de julho- 16:00

Um comentário:

Lucy disse...

botou a fotinha! ficou lindinha! peguei pra mim, e em alta resolução! rá!

ah daqui a pouco vai ter de me botar de co-autora... hehehe to brincando.


acho q o da rua javari foi o top, apesar de só carcamanos palmeirenses usarem caspita ainda. q não tem acento.

:P

bjocas