sábado, 25 de agosto de 2007

Pretty Woman trash


Sai Julia Roberts, entra Zé do Caixão. O dramalhão em Bangu desconhecia as vantagens de uma iluminação imponente; até vaga-lumes teriam performance mais digna em meio ao intenso combate no gramado. Coitadinho do presidente, ele não merecia sofrer com um filme trash sem holofotes como este em Pretty Woman. João Bosco, adepto dos efeitos hollywoodianos, desejava o fim desse pesadelo; ele só queria se deleitar com o corsário Duro de Matar 4 adquirido na noite anterior. No entanto, a partida parecia contrariar a ditadura do tempo, avançando melancolicamente diante da escuridão ameaçadora.

A excessiva e burocrática cautela villa-novense teve o dom de ressuscitar a moribunda equipe do Madureira, garantindo a pungente carga de dramaticidade tipo C que tomou conta de todo o segundo ato. Ahhh...um cenário perfeito para uma transmissão radiofônica livre da companhia maldita da televisão e suas imagens irritantemente categóricas. Aguiar pôde gritar e vociferar com tranqüilidade; também pude dar um tom funesto e gutural a cada avanço amarelo, construindo um cenário de caos que certamente tocou o ouvinte distante e carente.

Ah...como somos maus...Mas podem acreditar: os minutos finais foram realmente angustiantes; nem mesmo a vexatória penumbra de Pretty Woman conseguiu ocultar o sofrimento de toda gente humilde do Leão que só desejava avançar para a próxima fase e seguir sonhando com o eldorado da Série B. No entanto, o time amarelo hepatite do subúrbio buscava incessantemente o gol de empate; sua digna luta pela honra se confundia com os boatos de doping financeiro juventino, materializados em uma mala preta recheada de pizzas sabor calabresa.

A Rádio Carioca 710 se entusiasmava a cada jogada de ataque; produzindo um escarcéu na varanda de imprensa e impulsionando as parcas esposas e sogras nas arquibancadas frenéticas; já a Aurilândia e a concorrente depositavam esperanças no feitiço do tempo, apenas ele poderia salvar o amedrontado e acuado leão. Em meio à avalanche de sensações e desejos, o árbitro daria a cartada final, assumindo seu tradicional papel de vilão e protagonizando lamentáveis ofensas, expulsões, discussões e ameaças nos instantes derradeiros. Por favor, só não ofendam a bandeirinha Dulcinete, que ela é moça de família...O discurso de superação contra tudo e todos já estava preparado, bastava resistir e vencer. Foi divertido.

O Madureira foi agressivo desde o início da segunda etapa, buscando envolver um adversário que simplesmente renunciou ao ataque. O técnico Gabriel Vieira percebeu a nova face da partida e aos 11 minutos modificou a equipe, promovendo a entrada de um bancário atacante na vaga de um lateral-direito defensor (saiu Celso, entrou Dinei). Logo na seqüência, aos 14 minutos, o já evidente domínio territorial amarelo encontrou o travessão do milagreiro Glaysson, em potente disparo de Michel já na acolhedora área vip villa-novense. O retumbante uhhhh das esposas suburbanas nas arquibancadas impulsionou o Madureira; a equipe manteve o sufoco, alterou um zagueiro por contusão e levou o prudente Flávio Lopes a retirar um atacante e colocar um meio-campista defensivo (saiu Rômulo, entrou Jackson). O Villa permanecia com a liderança do marcador: 2 a 1.

Aos 26 minutos, Luciano invadiu a área e finalizou para o gol. O disparo não foi forte, mas descreveu uma trajetória traiçoeira. Glaysson, provavelmente disposto a agradar o presidente, saltou como um Bruce Willis negro e alado. A defesa do milagreiro encheu de impactante frustração a gente suburbana, o Villa pôde respirar melhor e até desafiar os mistérios das trevas do campo inimigo. No entanto, aos 34 minutos, Fabinho boca suja entraria bisonhamente em ação.

O obscuro atacante do Villa Nova invadiu a área adversária pela direita e caiu na terra prometida na esperança de um pênalti salvador. O árbitro capixaba não se sensibilizou com a tosca simulação e ordenou a imediata seqüência do confronto. Fabinho boca suja, tomado por fulminante indignação, mirou o insensível árbitro e manifestou toda a educação que seus pais lhe ofereceram, desejando em alto e bom som que o mandatário da partida tomasse no c. O árbitro, aparentemente não adepto da prática sodomita, negou o convite e respondeu com um cartão vermelho. O caos tomaria conta da trash Pretty Woman.

Fabinho boca suja ainda caminhava sorrateiramente rumo ao vestiário quando, aos 37 minutos, o árbitro capixaba, já uma das estrelas do evento, disse a Carciano que ele estava “falando demais”. O zagueiro capitão villa-novense, um gentleman, uma espécie de novo Príncipe Etíope do futebol brasileiro, foi expulso de campo. O comandante Flávio Jennifer Lopes, tomado por incontrolável ira, invadiu o gramado, gritou, esperneou, rebolou e também foi eliminado pelo júri. O árbitro, cercado por um voraz mar alvirrubro, friamente manteve-se irredutível; Bangu I já estava em alerta.

Fabinho boca suja, o gentleman Carciano e Flávio Jennifer Lopes, acompanharam o restante da partida na entrada dos vestiários. O quarto árbitro ainda acionou a força policial, na tentativa de retirá-los do local. No entanto, nunca existiu lei em Bangu; Lopes seguiu gritando histrionicamente, implorando para que o time tomasse cuidado com as costas (bom...o árbitro que deveria fazer isso, depois do que o Fabinho falou...enfim). Willian César, que havia entrado pouco antes da primeira expulsão, se transformou em um solitário atacante, rompendo insanamente a enigmática penumbra; Márcio Diogo saiu, o zagueiro Helberth entrou para dar mais força ao ferrolho villa-novense. O técnico carioca ainda colocou mais um atacante em campo (saiu Amarildo, entrou Raone), mas pouco depois Michel foi expulso ao cometer dura falta. A eliminação do meio-campista foi um golpe fatal para o time que sonhava em se despedir da série C de forma menos vergonhosa. Mas restavam cinco minutos de acréscimos...O Madureira desesperado se lançou ao ataque, entretanto se limitou a infrutíferas conexões aéreas. A mediocridade da casa garantiu o alívio derradeiro em Pretty Woman. Final de partida. Madureira 1x2 Villa Nova.

No outro confronto da rodada, o sorumbático Democrata se classificou ao empatar sem gols com o Juventus. No entanto, o Villa Nova conquistou a primeira colocação, com nove pontos, duas vitórias, três empates, uma derrota, 12 gols marcados, 6 gols sofridos. O Democrata também alcançou nove pontos, porém foi superado no saldo de gols; a pantera marcou sete vezes, mas sofreu dez golpes fatais. O Juventus agora apenas disputa alegremente a Copa da Federação Paulista, o Madureira...bom... o Madureira volta ano que vem. Fique com a ficha técnica.

05/08/2007 – domingo –16h

Madureira 1 x 2 Villa Nova Gols – Vivinho (6’ do 1º) (pênalti) (M) – Paulo César(21’ do 1º), Carciano (28’ do 1º) (V)

Local – Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho– Moça Bonita (Rio de Janeiro-RJ)

Árbitro – Eucimar Luís Ramos (ES) Assistente 1 – Ricardo Maurício Ferreira de Almeida(RJ) Assistente 2 – Dulcinete Ferreira Machado (RJ) 4º Árbitro – Adriano Ferreira Machado (RJ) Cartão Amarelo – Sílvio (M) – André, Rodrigão,Carciano, Raniery, Márcio Diogo, Fabinho (V) Cartão Vermelho – Michel (43’ do 2º) (M) – Fabinho(34’ do 2º), Carciano (37’ do 2º) (V)

Madureira – Bruno Garcia; Celso (Dinei) (11’ do 2º),Marcílio, Sílvio (Thiago Borges) (18’ do 2º) e Amarildo (Raone) (40’ do 2º); Tiago Costa, Daniel,Guido e Michel; Luciano e Vivinho Técnico – Gabriel Vieira

Villa Nova – Glaysson; Édson, Rodrigão, Carciano e Raniery; André, Emerson (William César) (32’ do 2º),Paulo César e Márcio Diogo (Helberth) (40’ do 2º);Fabinho e Rômulo (Jackson) (20’ do 2º) Técnico – Flávio Lopes

Depois do jogo: o sorriso de galã guatemalteco de Márcio Diogo simbolizou bem o sentimento de alívio e felicidade que invadiu cada coração villa-novense. Os jogadores saíam felizes e disparavam os discursos de superação já preparados antecipadamente com amor e carinho. Ah...como tempero especial...tradicionais elogios ao árbitro da partida. A festa dos heróis tipo C continuou nos vestiários; cantaram parabéns para alguém que desconheço e deram gritos de profundo êxtase que provavelmente irritaram os dirigentes anfitriões. A luz do vestiário foi solenemente cortada; o mesmo aconteceu com a varanda de imprensa. Aguiar ainda conquistou a façanha de ler alguns reclames antes de finalmente encerrar a jornada na mais completa escuridão. Antes disso, o narrador de ouro tinha se divertido bastante em meio a gargalhadas espalhafatosas. Tudo porque Fabinho boca suja, perguntado qual havia sido o motivo de sua expulsão, respondeu com toda a sinceridade: "Ah...eu mandei ele tomar no c..." O microfone da Aurilândia captou cada letra, cada palavra; nesses momentos não existe problema técnico, tudo funciona perfeitamente...e a Aurilândia se transforma na BBC de Londres. Culpa do Armando. Ou seria de Jota Moreira?

4 comentários:

Lucy disse...

q demora triste

Fabi disse...

aveeeeeeeee

abandonou?

GregorSamsa disse...

O público pede mais...

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Computador, I hope you enjoy. The address is http://computador-brasil.blogspot.com. A hug.