sexta-feira, 13 de julho de 2007

Quem tem medo de Jota Moreira?



Com a cabeça erguida e olhar decidido, deseje boa tarde ao porteiro de plantão. Não se esqueça do sorriso nos lábios e o orgulho no coração ao apresentar sua carteira da “fabulosa” Associação Mineira dos Cronistas Esportivos (caso não esteja com a carteira de 2007, vale também o recibo de pagamento acompanhado de sua carteira de identidade). Cumprido o ritual, ganhe as dependências do estádio, avançando pelos estreitos corredores até alcançar o primeiro lance de degraus metálicos.

Não há o que temer. Siga confiante, mas acrescente um pouco de prudência ao seu caminhar. Encare a situação e seus fatores positivos: imagino que você esteja sóbrio (a), afinal veio para trabalhar em nome da imprensa, uma instituição séria; são poucos degraus e aparentemente são resistentes; exercícios físicos quase sempre são benéficos, fortalecem as panturrilhas e elevam a alma. Além disso, acima de tudo, sempre tenha em mente: poucos metros a (o) separam do paraíso. Superada a simpática escada helicoidal (ou caracol), sinta-se à vontade. O senhor ou senhora acaba de chegar ao setor de imprensa do estádio Castor Cifuentes, o Alçapão do Bonfim. Controle sua emoção e tenha uma excelente jornada esportiva!

O complexo compreende quatro cabines de transmissão; deve ter banheiro também (não prestei muita atenção); em cada uma de suas extremidades, estão amplos espaços que nos remetem às varandas dos sítios dos sonhos de nossas infâncias. São nesses espaços que emissoras de televisão posicionam suas câmeras e também se acotovelam as rádios mais humildes em dias de visitantes mais badalados. Mas, evidentemente, não precisamos nos preocupar com isso. Estamos a serviço da Aurilândia, tradicional rádio da casa, e o visitante da tarde é o Madureira...ora bolas...Nada, eu disse nada, vai nos tirar da cabine 3, a não ser nossa disposição em caminhar um pouco enquanto a bola não rola para o empolgante segundo tempo.

Bastaram poucos passos para encontrar, também saboreando sanduíches de presunto e queijo na cabine ao lado, Wagner Augusto, assessor de imprensa e historiador do Villa, e João Bosco Pessoa, presidente do dito cujo. João exibia um semblante não muito satisfeito. O culpado não era o sanduíche e sim o inoperante ataque do Leão do Bonfim. Entre uma mordida e outra, ele elogiava o seguro zagueiro Carciano e dava as receitas para a reação: “tem que partir pra cima, encarar os zagueiros, trombar, nossa...como tem mulher gata na torcida do Villa”, afirmou o nobre presidente.


João Bosco ainda confessou um desejo frustrado. Ao ser informado que o atacante Jean Macapá, autêntico andarilho do futebol mineiro, havia marcado o gol do Democrata de Governador Valadares na outra partida do grupo diante do Juventus na Rua Javari (que terminaria empatada em um a um), o presidente com nome de compositor, lamentou não tê-lo contratado para fortalecer o ataque do Leão. Pobre João, caso soubesse que, na verdade, o autor do gol foi o lateral-esquerdo Jean e não o atacante homônimo, não teria revelado o insólito desejo por Macapá...

Melhor voltar à cabine 3, voltar à transmissão clandestina. No gramado, equipes já em ação e no estúdio da Aurilândia o âncora Jota Moreira que, se no primeiro tempo, afirmava com aparente convicção que faríamos toda a segunda etapa, agora pedia “escusas”, isso mesmo, “escusas” aos ouvintes, enquanto, com a classe dos antigos, vociferava contra a Telemar. Já o Villa demonstrava uma certa evolução em campo. O Madureira retomara o complexo de vira-latas fora de casa e não ultrapassava a metade do gramado. A partida se desenvolvia intensamente no campo de ataque do Leão quando um milagre aconteceu.

A nossa querida Telemar, honrando o slogan “Viver sem fronteiras”, solucionou a questão do maldito poste (foto acima). O senhor Jota Moreira, em um misto de empolgação e alívio, acionou Aguiar que, com cerca de 15 minutos do segundo ato, deu início à jornada. Os equipamentos estavam instalados apenas na cabine, portanto, o repórter também teve que se instalar por lá, distante do gramado, longe do balacobaco e do ziriguidum do partida. O Villa mantinha a pressão, buscava alternativas, mas esbarrava em suas próprias limitações. Inofensivos disparates paravam nos braços do goleiro Bruno, finalizações diziam adeus pela linha final e, na mais clara oportunidade, o meio-campista Paulo César protagonizou uma furada estratosférica já na grande área inimiga.

O amargo técnico Pirulito colocava bancários em campo, desejando mais agressividade e velocidade à equipe. Willian César até demonstrava potencial com avanços pela direita; Emerson se deslocava bastante e era cobrador de faltas traiçoeiras. No entanto, o Madureira era feroz na marcação, evidenciando um fato já confirmado anteriormente: não existem latifúndios na Série C. A figura do arbitro Leonardo Ferreira Lima, um estudante paulista de 23 anos, também foi gentil com o time suburbano, ao ignorar a lentidão carioca em fazer as reposições e cobrar infrações. O zero a zero foi inevitável.

Encerrada a partida, Pirulito, também conhecido como Francisco Carlos Ferreira da Silva, atravessou todo o gramado e, antes de alcançar o vestiário, foi homenageado por um grupo de torcedores finos, todos trajando elegantes smokings e black-ties. Os torcedores gritavam algo e pareciam oferecer doses do sofisticado whisky que consumiam há horas. Pirulito chegou a ameaçar pular o alambrado e confraternizar com seus admiradores. No entanto, acabou desistindo e partindo rumo ao vestiário das lamentações.

Felizmente desistiu. Estávamos sem máquinas fotográficas e seria lamentável não registrar o encontro. Aliás, esperamos superar nossas carências tecnológicas (talvez estejamos realmente com alma de Série C) e registrar futuramente momentos de nossas aventuras pela Terceirona. Afinal de contas, a loirinha da Federação, os velhinhos e as moças da arquibancada, as cabines, as escadas, as mesas, as cadeiras, o belo espetáculo no gramado, a bandeirinha com potencial para ser uma nova Ana Paula (e não falo exatamente de futebol), o Pirulito, o presidente que desejou Macapá, enfim, todos merecem registro.

Ah... estava me esquecendo do Jota Moreira. Após o final da partida, não percebendo que estávamos na cabine, ele pediu uma entrevista com o Pirulito, seu amigo de longa data e travessuras. Aguiar, sempre calmo, disse que devido às dificuldades técnicas da tarde, não seria possível. Jota, dono de grande currículo em rádios, segundo o mesmo, insistiu e chegou a pedir que trouxéssemos o técnico à cabine. Aguiar, sempre compreensivo, ligou para o assessor Wagner que lhe informou que Pirulito se encontrava muito irritado, talvez por não ter pulado o alambrado e extravasado toda sua felicidade. Jota, após tentar novamente nos convencer com sua voz poderosa, finalmente se conteve, para nossa felicidade. Já às escuras encerramos a singular jornada direta do Alçapão do Bonfim. Pirulito ficou para a próxima. Fique com a ficha técnica da partida e nos deseje mais sorte na seqüência de nossas peripécias. Obrigado.

Ficha Técnica


1ª Rodada - 07/07/2007 - sábado - 16h Villa Nova 0×0 Madureira-RJ

Local - Estádio Municipal Castor Cifuentes (Nova Lima-MG)

Público - 965 Renda - R$5.433,00 (US$2.700)

Árbitro - Leonardo Ferreira Lima (SP)- Assistentes: Rodrigo Otávio Baeta (MG) e Angela Paula da Cruz Régis Ribeiro (MG) Cartão Amarelo - André Paulino (M) Cartão Vermelho - Não houve

Villa Nova - Glaysson; Édson (William César) (27´ do 2º), Rodrigão, Carciano e Raniery; André (Emerson) (6´ do 2º), Jackson, Paulo César e Márcio Serrão (Bruno Cardoso) (intervalo); Fabinho e Márcio Diogo Técnico - Francisco Carlos Ferreira da Silva - Pirulito

Madureira - Bruno Garcia; Schneider, Paulo César, Silvio e Amarildo (Glauco) (44´ do 2º); André Paulino, Guido, Raone (Celso) (30´ do 2º) e Muriqui; Douglas (Abel) (20´ do 2º) e Marcelo Pelé Técnico - Gabriel Vieira


Próximo destino: Governador Valadares, sábado, 14 de julho, 16:00 h- DEMOCRATA x VILLA NOVA.
Rômulo Mendonça

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